Título: Discursos sugerem afrouxamento fiscal e evitam reforma da Previdência
Autor: Gobetti, Sérgio
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2007, Nacional, p. A6

Nos dois discursos com os quais se dirigiu ao País, ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a elogiar suas realizações e a defender a Lei de Responsabilidade Fiscal, mas também apontou para um caminho que poderá significar um afrouxamento fiscal nos próximos anos.

No parlatório, praticamente não falou de governo. No Congresso, citou apenas, além da reforma política, a tributária. Não mencionou reformas que ajudem a reduzir as despesas correntes, como a da Previdência Social, ou ajudem a criação de empregos, como a trabalhista.

Quanto à responsabilidade fiscal, pela primeira vez ele a mencionou com ressalvas, afirmando que ¿é preciso combinar essa responsabilidade com mudanças de postura e ousadia na criação de novas oportunidades para o País.¿ E advertiu que o País terá um crescimento ¿vigoroso, mas não o crescimento como o que tivemos em outra época¿, quando os pobres não eram beneficiados.

Nos próximos meses, o Brasil saberá como o presidente pretende fazer essa combinação e quais as ¿mudanças de postura¿ que considera indispensáveis. Suas palavras, ontem, apenas dão uma dica do que pretende. Disse que vai buscar, no novo mandato, uma combinação equilibrada do investimento público com o privado.

GARGALOS

Para isso, o governo terá de ¿desobstruir os gargalos¿ e ¿romper as amarras¿ que travam cada um destes setores. ¿Isto significa ampliar e agilizar o investimento público, desonerar e incentivar o investimento privado¿, explicou.

O problema é que as decisões tomadas por Lula ao longo de 2006 projetam uma forte elevação das despesas correntes em 2007. Assim, não terá como ampliar substancialmente os investimentos públicos este ano nem desonerar de modo expressivo os investimentos privados, a menos que decida reduzir o superávit primário da União, fixado em 2,45% do Produto Interno Bruto (PIB). As palavras do presidente reforçam a expectativa de que o governo irá mesmo, já neste ano, reduzir o superávit primário com o desconto das despesas do Projeto Piloto de Investimentos (PPI).

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já tinha informado a intenção do governo de elevar o PPI de 0,2% para 0,5% do PIB. O superávit da União cairia para 1,95% do PIB e o superávit primário do setor público, de 4,25% para 3,75% do PIB.

A POSSE NA IMPRENSA ESTRANGEIRA

CLARÍN X

¿Lula assume segundo mandato e pede coragem e ousadia para acelerar o desenvolvimento¿, diz o título do diário argentino, destacando que a cerimônia ¿ocorreu sem a presença de chefes de Estado estrangeiros¿. O presidente ¿disse sentir-se igual, no ímpeto e na coragem de atuar¿, ao que era há quatro anos, mas ¿diferente na experiência acumulada na difícil arte de governar¿. A cerimônia ¿foi sóbria¿ embora Lula tenha antes passeado em caravana pelas avenidas de Brasília¿.

EL PAIS

O presidente Lula ¿renovou seu compromisso de combate à fome e à miséria¿, destacou o jornal espanhol. O texto ressalta que Lula

¿assumiu hoje seu segundo mandato sem a presença de líderes estrangeiros, mas apoiado por milhares de militantes do PT¿. Depois, informa que ¿cerca de 1.200 convidados, entre ministros e membros de tribunais, diplomatas e políticos¿ assistiram à cerimônia. Lula diz que ¿muito foi feito no combate à fome¿ mas ¿permanecem injustiças entre os pobres¿.

LA STAMPA

Em seu site na internet, o diário italiano destaca a presença do chanceler italiano Massimo d¿Alema, que antes da posse teve um encontro com o presidente Lula, no Palácio do Planalto. Sobre a posse, com o título ¿Novo mandato para o crescimento¿, o jornal diz que Lula ¿mira na aceleração da economia do País, ao ser investido oficialmente hoje para o segundo mandato¿. Adiante, a reportagem define a cerimônia como ¿sóbria no nível material mas forte no plano político¿.

THE NEW YORK TIMES

¿O primeiro presidente da classe operária do Brasil tomou posse renovando apelos para acelerar a economia e reduzir a distância entre a elite rica e milhões que vivem na miséria¿, afirmou o Times. Lula ¿fez o juramento após chegar em um Rolls-Royce conversível, mas insistiu que não perdeu suas raízes como filho de um humilde lavrador do Nordeste¿. O texto diz que ¿chuvas tropicais inundaram Brasília¿ e militantes exibiam camiseta com foto de Lula e as palavras ¿Deixa o homem trabalhar¿.