Título: Brasília tem menos gente na rua do que em 2003
Autor: Gallucci, Mariângela e Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2007, Nacional, p. A8

A posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem em Brasília, atraiu um público bem menor do que há quatro anos, quando ele assumiu a Presidência pela primeira vez. Grande parte das pessoas que foram à Esplanada dos Ministérios chegou a Brasília em ônibus alugados pelo PT. Eram poucos os turistas na solenidade.

Além da diminuição do interesse pelo segundo mandato, a forte chuva que caiu na capital federal desde a noite do dia 31 afastou o público. Minutos antes do início da cerimônia, dirigentes do PT estimavam que somente cerca de 10 mil pessoas - mesmo número da Polícia Militar - estavam na Esplanada.

Em 2003, segundo o partido do presidente, estiveram na posse cerca de 120 mil pessoas. Mas cálculos feitos na ocasião pela Defesa Civil do Distrito Federal, com base em fotos aéreas, indicaram que a participação foi menor: 71 mil pessoas.

Ontem, em uma das tendas instaladas no gramado da Esplanada foi colocada a faixa ¿Somos milhões de Lulas¿. No entanto, no interior da tenda, havia no máximo 20 pessoas. Para tentar animar o público enquanto a chuva caía, dirigentes do PT gritavam frases de incentivo: ¿É o Brasil inteiro na posse do companheiro Lula.¿ Mas organizadores do evento reconheciam que ¿a chuva prejudicou¿.

O público também estava menos emocionado do que na posse de 2003. Ao contrário do que ocorreu naquele ano, não foram vistas pessoas chorando. Por volta das 15h45, quando Lula finalmente entrou no Rolls-Royce presidencial, os organizadores ensaiaram coros como ¿olê, olê, olê, olá, Lula, Lula¿. Pouca gente aderiu.

Nem mesmo a venda de material vingou. Nas banquinhas instaladas ao longo da Esplanada dos Ministérios, vendedores admitiam que o movimento estava bem abaixo do esperado. Igor Feitosa, que oferecia água e refrigerante, chegou por volta das 8 horas na Praça dos Três Poderes. Às 15 horas, afirmou que só tinha vendido o equivalente a R$ 6. ¿Esperava vender R$ 1 mil.¿

Maria Carvalho, de 37 anos, foi à Esplanada muito mais para matar a curiosidade do marido israelense do que para comemorar a eleição. ¿Ele tinha curiosidade de ver um presidente de perto. Foi só.¿

O mesmo ocorreu com o casal Ana Lígia Bacca e Fábio Marculo Depine. Morando em Brasília há dois anos, eles levaram os pais de Fábio para assistir de perto à solenidade. ¿Acho que essa apatia toda é sinal de descontentamento com a situação financeira, com a situação política do País¿, Leandro Depine, de 58 anos.

SHOWS

Apesar da chuva, Girlangina Saraiva Lima chegou por volta das 10 horas na Esplanada com a família para assistir à comemoração. ¿Aqui não tem quase lugar para sair¿, afirmou a maranhense. O marido, o cearense Delclécio Almino da Silva, tinha uma explicação para o público pequeno presente à posse: ¿Na primeira tinha mais ansiedade; na segunda, o pessoal já viu.¿

Nem todos tiveram ânimo para assistir ao show depois da posse. Logo depois de Lula seguir para o Planalto, uma legião de pessoas deixou a Esplanada. Alberto Vieira da Silva, aposentado, era um deles. ¿Moro longe, vi o principal¿, justificou.