Título: Presidente evita Berzoini, mas abraça Genoino
Autor: Lopes, Eugênia e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2007, Nacional, p. A9

Pelo menos 22 ministros foram à posse de Lula na Câmara. Dividiram cadeiras do plenário com familiares do presidente da República e parlamentares envolvidos nos escândalos de corrupção. Para se desvencilhar das lembranças que viraram referências de seus últimos quatro anos de governo, logo na chegada, o presidente esquivou-se para não cumprimentar o presidente licenciado do PT, Ricardo Berzoini, que estava com o filho Luigi. O deputado ainda tentou um abraço, mas não obteve êxito. Restou-lhe o consolo de dar um tapinha nas costas de Lula, que nem sequer se virou.

A frieza de Lula foi um gesto simbólico. Isolado, Berzoini só recebeu tratamento acalorado dos mensaleiros José Mentor e Professor Luizinho, condenados no Conselho de Ética e absolvidos em plenário. Com eles, Berzoini manteve conversa animada, mas, visivelmente constrangido, acabou encontrando dificuldades até para assistir de uma boa bancada ao discurso.

O deputado eleito José Genoino (PT-SP) chegou ao plenário meio acabrunhado, porém aos poucos o parlamentar foi se soltando e parecia mais à vontade. O presidente, ao vê-lo na saída, deu um prolongado abraço. Foi outro gesto repleto de simbolismo, uma espécie de anistia informal aos acusados de ter recebido o mensalão.

O ex-líder petista Paulo Rocha (PA), que renunciou no auge do escândalo da mesada dos parlamentares e se reelegeu deputado, era um dos mensaleiros mais desavergonhados. Ele não demonstrou nenhum sinal de constrangimento e era um dos petistas mais empolgados em plenário.

Houve ainda um momento em que dois escândalos envolvendo pessoas próximas de Lula se cruzaram. Genoino, que foi indiciado pelo Ministério Público no inquérito do mensalão, abraçou o senador Aloizio Mercadante, indiciado pela Polícia Federal no caso do dossiê Vedoin contra tucanos. Detalhe: Genoino sentou-se ao lado do deputado Nilton Capixaba (PTB-RO), apontado como um dos principais nomes do desvio de recursos do Orçamento para a compra superfaturada de ambulâncias - o chamado escândalo dos sanguessugas.

Mesmo depois de ter sido demitido do Ministério da Educação por telefone pelo presidente, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) mostrou que não guarda mais mágoas e assistiu ao discurso de Lula. Ele dividiu espaço com outros petistas e ainda conseguiu ser cumprimentado pelo presidente. A pedido de Lula, os seus familiares puderam se sentar na primeira fileira de cadeiras do plenário da Câmara.