Título: 'Vivemos no Brasil um período de crise de valores', afirma tucano
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/01/2007, Nacional, p. A12
Em um discurso forte e repleto de recados e críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), disse ontem em sua cerimônia de posse no Legislativo paulista que o País passa por uma crise de valores, moral e política. ¿Fazemos parte da linha de frente de uma das melhores coisas que a cultura ocidental produziu: a democracia representativa. Mas vivemos no Brasil um período de crise de valores.¿
À questão ética, que considerou não ser uma mera ¿indisposição passageira¿, o tucano emendou críticas a uma outra área-chave da gestão petista. ¿Trata-se de uma crise mesmo. Uma crise moral, que prospera numa economia onde faltam empregos e sobra a estagnação.¿ A associação é bastante reveladora do papel que Serra irá representar nos próximos quatro anos no cenário nacional. Será na área econômica que o tucano imprimirá sua oposição mais vigorosa a Lula.
Mais formal e bem menos emocionado e descontraído do que na cerimônia de transmissão de cargo na sede do governo estadual, Serra, sem citar nomes, mas numa referência clara à série de escândalos do governo Lula, disse que um governo eficiente se faz sem corrupção, loteamento de cargos, fisiologismo nem compadrio. ¿Ser ético significa, entre outras coisas, evitar o loteamento de cargos que traz a ineficiência e estimula a corrupção. Não fizemos loteamento político no primeiro escalão e não estamos fazendo nem faremos no segundo escalão.¿ Na formação de seu governo, o tucano reservou cinco secretarias para seus aliados políticos - PFL, PTB e PPS.
A cerimônia durou cerca de uma hora. Sem improvisos, Serra discursou por nove minutos da tribuna da Assembléia Legislativa para um plenário lotado por deputados e secretários de Estado e uma galeria repleta de convidados. Foram três páginas e meia de texto escrito por ele mesmo e que foram lidas a maior parte do tempo. Algumas vezes, o tucano, com trechos decorados, conseguiu se desvencilhar dos papéis. Em outras arrancou aplausos. Citou brasileiros ilustres como Franco Montoro e Ulysses Guimarães. Começou o pronunciamento falando de Winston Churchill, passou pelo romano Pompeu Magno e acabou no poeta Fernando Pessoa.
Dedicou parte do pronunciamento a falar da relação que espera ter com a Assembléia. Garantiu, em mais um contraponto ao governo Lula, que ¿vai procurar convencer, não cooptar¿ nas negociações com o Legislativo. ¿Vamos buscar a maioria para realizar um programa, não para viver o conforto de não ter adversários.¿
OUSADIA
Colocando-se como um obstinado por fazer São Paulo dar certo, o governador prometeu uma administração ousada. ¿Ousar é inovar. Não tenho medo do novo. Não há bom governo na história que não tenha ousado. E eu vou ter a coragem de ousar¿, disse, acrescentando que não ficará alheio aos problemas do País. ¿Jamais seremos indiferentes às questões nacionais. Venho propor uma ação pela ética, desenvolvimento, justiça social e solidariedade ao Brasil.¿
Usando o habitual terno azul marinho, camisa branca e gravata vinho, Serra encerrou seu pronunciamento reafirmando seu compromisso. ¿Reitero a todos os paulistas o meu convite e meu propósito. Juntos, vamos fazer de nosso Estado um lugar melhor. Mais justo, fraterno, igualitário, seguro e livre.¿