Título: Ala estatizante ganha força, dizem analistas
Autor: Goy, Leonardo e Marques, Gerusa
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2007, Nacional, p. A7
A decisão do governo de suspender as concessões de rodovias federais pode ser um indicativo de que alas mais estatizantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva estejam ganhando força nesse segundo mandato, segundo especialistas. 'Sempre houve no governo uma ala mais pró-mercado e outra mais pró-Estado', disse o cientista político Carlos de Melo, do Ibmec-SP.
Para ele, essa sempre foi uma ambigüidade do governo Lula, amenizada no primeiro mandato por conta da desconfiança que havia do mercado. 'No primeiro mandato houve pressão muito grande do mercado e isso fez o governo Lula andar no fio da navalha, pois havia um déficit de credibilidade', opina o cientista político.
Para ele, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci foi um dos maiores responsáveis por manter no primeiro mandato a ala pró-mercado em evidência. Ele, no entanto, admite que os discursos recentes dos ministros Tarso Genro (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil) são um indicativo de que a ala pró-Estado começa a ganhar forças.
Para o especialista, o fortalecimento de grupos que defendam um governo mais centralizador pode representar prejuízos ao presidente Lula. 'A estatização, por si, não é um problema, desde que seja feita com base em dados, de uma forma administrativa e não-ideológica. Se o argumento for ideológico, estamos indo para um mau caminho', opinou Carlos de Melo.
Para o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, o fortalecimento dos grupos menos liberais dentro do governo Lula pode ser tornar um problema. 'É um mau sinal para a economia e para o País porque demonstra que setores estatizantes do PT conseguiram se sobressair diante de outros, mais modernos', disse.
Ele avalia que o fato de a idéia surgir como um tema de marketing político - por conta do ataque do PT à privatização na campanha eleitoral - é uma agravante. 'O fim das concessões está ligado a uma questão de marketing político e o temor, a meu ver infundado, de que o presidente Lula sofra algum desgaste com a privatização das estradas', disse Nóbrega.
O professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas Ricardo Carneiro, por sua vez, disse ver com bons olhos a medida anunciada pela ministra Dilma. Para ele, a área de infra-estrutura - incluindo rodovias - é uma daquelas em que o Estado precisa ter presença mais forte. 'As concessões criam monopólios, uma vez que não fica assegurada a concorrência.'