Título: Bush admite erros e envia reforços
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/01/2007, Internacional, p. A12

O presidente George W. Bush anunciou ontem à noite, em discurso na Casa Branca, o envio de mais 21.500 soldados americanos ao Iraque (onde já há 140 mil), admitindo, pela primeira vez, erros na estratégia adotada anteriormente. 'Não houve tropas iraquianas e americanas suficientes para garantir a segurança de bairros (de Bagdá) que tinham sido limpos de terroristas e insurgentes', afirmou, acrescentando que também faltaram regras claras de combate e as tropas atuaram sob muitas restrições. 'Onde houve erros, a responsabilidade é minha', disse. 'Nossos comandantes revisaram o novo plano para garantir que ele corrija esses erros.'

Bush justificou a decisão de enviar mais tropas - apesar da oposição dos democratas e da maioria da população - dizendo que recuar agora forçaria o colapso do governo iraquiano. 'Nesse cenário, nossas tropas seriam forçadas a ficar no Iraque ainda mais tempo e a enfrentar um inimigo ainda mais mortífero', afirmou. 'Se aumentamos nosso apoio (ao governo iraquiano) neste momento crucial e ajudamos os iraquianos a romper o ciclo de violência, podemos apressar o dia em que nossos soldados começarão a voltar para casa.'

Segundo o conselheiro da Casa Branca Dan Bartlett, Bush decidiu enviar o reforço militar, destinado principalmente a Bagdá, somente para apoiar as tropas iraquianas. Durante os esforços anteriores para acalmar Bagdá, as forças americanas tinham o combate como sua principal responsabilidade e muitas das tropas iraquianas prometidas para essas operações rejeitaram ordens de ir para a capital, disseram militares. A experiência fez com que muitos oficiais americanos argumentassem contra um aumento de tropas dos EUA. Uma pesquisa do Gallup divulgada terça-feira pelo USA Today mostrou que 61% dos americanos são contra o envio de mais tropas ao Iraque, e só 26% aprovam o modo como Bush conduz a guerra.

'A situação no Iraque é inaceitável para o povo americano, e é inaceitável para mim', disse Bush. Ele indicou que as regras de engajamento fracassaram em parte porque o governo do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, excluiu das operações certos bairros em Bagdá.

Como condição prévia para o aumento das forças americanas, Maliki concordou em destacar um maior número de soldados iraquianos na capital e levantar restrições que têm obstruído ações contra as milícias xiitas ligadas a seus aliados políticos.

A nova estratégia de Bush prevê o envio de 4 mil marines à Província de Anbar e 17.500 soldados - o equivalente a 5 brigadas - a Bagdá. A primeira brigada chegará até segunda-feira, a segunda até 15 de fevereiro e as outras serão enviadas gradualmente.

Descrevendo o novo plano como um projeto 'para mudar o rumo da América no Iraque e ajudá-la a triunfar na luta contra o terror', Bush prometeu 'interromper o fluxo de apoio do Irã e Síria' a insurgentes iraquianios. Mas ressaltou que o envolvimento americano não durará indefinidamente e disse que o sucesso da nova estratégia dependerá de o governo iraquiano adotar passos específicos para conter a violência. 'Só os iraquianos podem pôr fim à violência sectária e proteger seu povo', afirmou. 'E o governo (do Iraque) apresentou um plano agressivo para fazer isso.' Bush anunciou que o governo de Maliki se encarregará de cumprir metas para ajudar a estabilizar o Iraque, como aprovar uma lei para dividir a receita petrolífera de forma equilibrada entre as várias comunidades e regiões do país, promover reformas políticas e projetos de reconstrução. 'Se o governo iraquiano não cumprir suas promessas, perderá o apoio do povo americano e do povo iraquiano.'

Maliki se comprometeu a enviar três brigadas a Bagdá, a primeira em 1º de fevereiro e as outras até o dia 15 do mesmo mês. O plano de Bush também prevê que as forças iraquianas assumam a responsabilidade pela segurança de todas as 18 províncias do Iraque até novembro - atualmente, o governo controla apenas 3 províncias. Segundo funcionários, isso não representa um cronograma para a retirada das tropas americanas.

O novo plano de Bush inclui um pedido de US$ 6,8 bilhões para pagar o aumento do número de soldados e para um programa de empregos e reconstrução no valor de US$ 1,2 bilhão. O valor será incluído nos gastos que Bush apresentará em fevereiro dentro do orçamento fiscal para 2007, disseram funcionários.

A nova liderança democrata do Congresso se reuniu ontem com Bush e reclamou que sua oposição a um aumento do número de tropas foi ignorado. 'Esta é a terceira vez que estamos seguindo esse caminho. Duas vezes ele não funcionou', disse a nova presidente da Câmara, Nancy Pelosi. 'Por que eles estão fazendo isso agora?'

Os democratas do Senado e da Câmara estão organizando votações contra o envio de mais soldados. Apesar de não terem força de lei, as votações podem forçar os republicanos a manifestar sua posição a favor ou contra o aumento de tropas.

No Iraque, Maliki pediu ontem à milícia xiita Exército Mehdi que deponha suas armas, caso contrário será atacada pelas tropas iraquianas e americanas. Ataques a bomba em várias cidades, incluindo Kerbala, Mossul e Kirkuk, deixaram pelo menos 35 mortos.

FRASES

George W. Bush Presidente dos EUA

'Não houve tropas iraquianas e americanas em número suficiente para proteger os bairros (de Bagdá) que foram limpos de terroristas e insurgentes'

'Se ajudamos os iraquianos a romper o ciclo de violência, podemos apressar o dia em que nossos soldados começarão a voltar para casa'

NÚMEROS

US$ 400 bilhões já foram gastos pelos EUA em quase 4 anos de conflito - cerca de US$ 287 milhões por dia

58 mil iraquianos foram mortos, 51 mil deles civis, segundo a estimativa mais baixa

3.015 soldados americanos morreram no Iraque

PONTOS DO PLANO

Tropas - Bush pretende enviar 17.500 soldados a Bagdá e 4 mil à Província de Anbar.

Custos - Quando apresentar seu orçamento fiscal para 2007, em fevereiro, Bush pedirá ao Congresso US$ 5,6 bilhões para financiar o reforço das tropas americanas no Iraque.

Ajuda econômica - O presidente também pedirá ao Congresso a aprovação de um pacote de US$ 1,2 bilhão para um programa de criação de empregos, ajuda e reconstrução do Iraque.

Compromisso iraquiano - O governo do Iraque, segundo os EUA, prometeu deslocar mais três brigadas para Bagdá; contribuir com US$ 10 bilhões para a reconstrução; conter a insurgência; dar às tropas iraquianas e americanas autoridade para perseguir extremistas de todas as facções; reformar o gabinete para permitir que o governo represente de forma equilibrada todas regiões e seitas.

Metas para o governo iraquiano - Finalizar uma 'lei do petróleo', de forma a dividir a receita dos recursos iraquianos entre as várias seitas e regiões, na tentativa de unir o país. Amenizar a política de 'desbaathização', que afastou os ex-membros do partido sunita Baath, de Saddam Hussein, de altos cargos do atual governo. Realizar eleições provinciais para trazer os sunitas de volta ao processo político. Assumir, até novembro, a responsabilidade pela segurança em todas as províncias iraquianas.