Título: PDT decide participar da coalizão e reivindica cargos
Autor: Fontes, Cida e Paraguassú, Lisandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2006, Nacional, p. A5

De olho em cargos na administração federal, a Executiva Nacional do PDT decidiu ontem que o partido deverá não só integrar a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso como também participar da coalizão. A despeito dos ataques generalizados ao PT e das críticas ao próprio governo, apenas 5 dos 28 pedetistas presentes foram contra a adesão ao Planalto.

Com isso, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, um dos maiores defensores da aliança com o governo, foi autorizado pela direção partidária a participar, como observador, da primeira reunião do conselho político da coalizão com Lula, realizada em seguida. A decisão da Executiva Nacional ainda terá de ser confirmada pelo Diretório Nacional, que será convocado a se manifestar em 12 de janeiro, mas ninguém tem dúvidas de que a adesão ao governo será ratificada. A certeza deve-se à constatação geral de que Lupi sempre comanda o voto de pelo menos 70% do Diretório Nacional.

¿Não me troco por causa de cargo¿, protestou o deputado João Fontes (SE), que teve uma discussão ríspida com Lupi, protagonizando o momento mais tenso da reunião. Ele cobrou coerência do presidente do partido, que foi à televisão na campanha eleitoral para dizer que ¿o PT era o partido mais corrupto do País¿ e para ¿apresentar a ficha policial de seus dirigentes¿. Em vão. ¿Leonel Brizola fundou o partido e outros querem afundar o PDT¿, esbravejou Fontes diante do resultado final.

Além de Fontes, também reprovaram a aliança com o governo o líder do PDT no Senado, Osmar Dias (PR), o senador Cristovam Buarque (DF), o governador Ronaldo Lessa (AL) e o deputado Vieira da Cunha (RS). ¿De nada adiantou nosso argumento de que o PDT acabará engolido pela base governista e perderá o diferencial e o charme que nos farão muita falta nas eleições de 2008 e 2010¿, lamentou Dias.

O senador lembrou que também foi inútil o apelo de Cristovam para a importância de o partido manter-se na oposição ao governo e garantir a segurança institucional, evitando inclusive eventuais movimentos do Planalto em favor de uma terceira reeleição de Lula. ¿O fato é que todo mundo criticou a questão ética e a política econômica subserviente a Washington, mas no fim a maioria ignorou os próprios argumentos e aprovou a coalizão¿, resumiu Osmar Dias.

BIOGRAFIA

Foi assim no longo discurso crítico do deputado Alceu Collares (RS), que encerrou sua fala com a ressalva de que, apesar de tudo, acredita que Lula vai repensar seus atos e salvar sua biografia no segundo mandato. Da mesma forma, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, também não poupou críticas ao governo. Anunciou que vem aí uma reforma trabalhista ¿para tirar direitos dos trabalhadores¿, com a qual o PDT não poderá concordar. Mas votou pela coalizão assim mesmo, garantindo a maioria folgada em favor do Planalto.

Para convencer o PDT, o presidente Lula prometeu não fazer reforma na Previdência nem mexer nos direitos trabalhistas. O partido terá 24 deputados e 5 senadores no ano que vem. Apesar dos ataques ao governo, só 5 dos 28 membros da executiva foram contra integrar base de apoio de Lula.