Título: Pinochet obstruiu inquérito sobre morte de ex-ministro
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/12/2006, Internacional, p. A16

O então presidente do Chile Augusto Pinochet tomou medidas para se proteger de possíveis processos jurídicos por parte de autoridades americanas e chilenas que investigavam o assassinato de um oponente político. É o que mostra um documento revelado à opinião pública pela CIA.

Segundo o documento, em junho de 1978, parte da estratégia de Pinochet para lidar com o assassinato de Orlando Letelier, ocorrido dois anos antes foi ¿impor barreiras¿ a solicitações do governo americano que ¿servisse para formar um caso jurídico¿ contra o chefe da polícia secreta do Chile, Manuel Contreras, e contra outros chilenos.

Pinochet também estava decidido a proteger Contreras de processos judiciais domésticos porque ¿a sobrevivência política do presidente dependia do destino de Contreras¿, diz o documento, divulgado na internet na terça-feira pelo Arquivo de Segurança Nacional, uma entidade de pesquisa ligada à universidade George Washington. Muitos desses documentos foram liberados para o público anos atrás, mas o órgão só os colocou na internet há dois dias por terem conexão com a morte do ex-ditador, no domingo.

Orlando Letelier foi ministro das Relações Exteriores e embaixador em Washington durante o governo do presidente marxista Salvador Allende, que precedeu Pinochet. Ele foi morto em setembro de 1976, quando uma bomba explodiu debaixo do carro em que ambos estavam, em Washington. Letelier vinha trabalhando para prejudicar a imagem do governo de Pinochet. Allende foi derrubado por um golpe militar comandado por Pinochet em setembro de 1973.

O documento, com o carimbo de ¿secreto¿, foi separado pelo FBI e pelo Departamento de Estado. Segundo este, Pinochet fez lobby na Suprema Corte chilena para garantir que os pedidos de extradição de cidadãos chilenos feitos pelos Estados Unidos fossem rejeitados. Um outro objetivo foi ¿explorar o nacionalismo chileno com uma campanha de ação clandestina para retratar a investigação sobre Letelier como de motivação política - mais um pretexto para desestabilizar o regime de Pinochet¿. No documento também consta que Pinochet teve a intenção de reduzir a imagem negativa do seu governo no exterior permitindo que a Comissão de Direitos Humanos da ONU visitasse o Chile.

Pinochet permaneceu no poder até 1990, abandonando o cargo depois de perder um plebiscito. Já Contreras passou sete anos preso por causa de seu papel no assassinato. Ele alegou que agiu sob as ordens do ex-ditador.

Peter Kornbluh, diretor do Projeto de Documentação do Chile, do Arquivo de Segurança Nacional, disse que o Departamento de Justiça, que investigou o assassinato, mantém arquivos confidenciais sobre o caso. Ele conclamou autoridades judiciárias a ¿liberar todos os documentos sobre a participação de Pinochet nessa atrocidade¿.