Título: Aliado de Berzoini acusa Pomar de aproveitar crise
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2007, Nacional, p. A8
O tesoureiro do PT, Paulo Ferreira, sugeriu ontem que o secretário de Relações Internacionais da sigla, Valter Pomar, está tentando se aproveitar do retorno do deputado Ricardo Berzoini (SP) à presidência do partido para obter algum tipo de vantagem política. Em um texto divulgado no site do PT, Ferreira respondeu o artigo publicado anteontem por Pomar, no qual o secretário afirmou que a volta de Berzoini ao cargo é 'ruim para o PT' e 'facilitará a vida daqueles que insistem em manter o PT nas páginas policiais'.
'Por que jogar contra quem, aliás, foi legitimamente escolhido num processo de escolha que contou com a participação de mais de 300 mil militantes? Que democracia defendem? A quem interessa desestabilizar Berzoini?', ironizou Ferreira. 'Não quero crer que alguns dirigentes petistas sejam adeptos do quanto pior melhor, atribuindo a culpa a quem sequer foi citado, muito menos que desejam que o nosso presidente caia em desgraça para, assim, conquistarem vantagem política.'
A volta de Berzoini, de acordo com Ferreira, foi marcada por um 'sentimento de justiça', já que seu nome ficou de fora do relatório final da Polícia Federal sobre o episódio do dossiê Vedoin. Além disso, o tesoureiro cobrou Pomar por ter levado o debate a público em vez de discutir a questão dentro das instâncias partidárias.
Mais tarde, em entrevista por telefone, Ferreira acrescentou que não vê motivos claros para o artigo escrito por seu colega, mas evitou acusá-lo diretamente de tentar obter um benefício próprio com a estratégia. 'Eu sei que não acho explicação clara para isso. Tem que haver uma explicação, certo?'
O artigo postado anteontem por Pomar abriu um confronto entre as correntes petistas Articulação de Esquerda - da qual o secretário é um dos principais expoentes - e o antigo Campo Majoritário do partido - integrado por Berzoini e Ferreira. No final da noite, Pomar decidiu publicar uma tréplica ao tesoureiro. Em mais um artigo, ele rebateu: 'Ferreira, ao se propor 'melhor reflexão para que não pairem dúvidas', revela ter uma capacidade que eu não tenho: a de ter certeza de que a sua opinião pessoal é 'a verdade', fora de qualquer dúvida.'
No novo texto, ele também respondeu às indagações do colega: 'Defendo uma democracia onde os eleitos são responsáveis perante seus eleitores. Onde têm que prestar contas de seus atos.'
Depois de ler o segundo artigo do secretário de Relações Internacionais, Ferreira aproveitou para amenizar o tom da disputa: 'Todavia, considero o segundo texto melhor que o primeiro.'
Desde que veio a público a suspeita de que Berzoini teria participado da tentativa de compra do dossiê Vedoin - que supostamente envolvia tucanos no esquema de venda superfaturada de ambulâncias -, Ferreira esteve entre os que defenderam sua permanência no comando partidário. Pomar, por sua vez, adotou posição contrária durante uma reunião realizada pela Executiva Nacional petista no início de outubro, na qual Berzoini comunicou que iria se licenciar do posto.
O principal argumento apresentado pelo dirigente era a necessidade de evitar que a suspeita de seu envolvimento com o caso do dossiê prejudicasse a campanha do presidente Lula à reeleição.