Título: Chávez afasta vice e dois ministros
Autor: Costas, Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2007, Internacional, p. A14

Uma semana antes de prestar juramento pela segunda vez como presidente venezuelano, Hugo Chávez anunciou na noite de quarta-feira que substituirá o vice-presidente, José Vicente Rangel, pelo ex-presidente do Conselho Nacional Eleitoral Jorge Rodríguez e o ministro do Interior, Jesse Chacón, pelo deputado Pedro Carrenho. O nome do parlamentar Rodrigo Cabezas também foi confirmado no Ministério das Finanças no lugar de Nelson Merentes.

Para analistas, a substituição de figuras centrais do governo é um sinal do que se pode esperar do segundo mandato de Chávez: um regime mais radical e com o poder extremamente centralizado.

As mudanças são vistas como uma forma de premiar políticos fiéis a Chávez e tirar do caminho quem poderia vacilar na aliança com o presidente ou mostrar moderação. ¿O desempenho de Chacón de fato deixou a desejar porque ele não conseguiu conter o avanço da violência na Venezuela, mas a verdade é que o principal critério adotado nessas alterações no governo foi outro: a lealdade a Chávez¿, disse ao Estado o cientista político Alfredo Ramos Jimenez, do Centro de Investigações em Políticas Comparadas da Universidade dos Andes.

Rangel foi o civil que teve mais influência no atual governo. Ele assumiu o cargo em 2002, depois do fracassado golpe contra Chávez, com a dupla tarefa de criar pontes de diálogo com a oposição e eliminar o risco de uma nova conspiração. ¿Num momento em que Chávez se sente onipotente e está até querendo criar um partido único - o Partido Socialista Unido da Venezuela - para concentrar mais poder, a relativa autonomia de Rangel é considerada uma ameaça¿, completou Jimenez, para quem o presidente privilegiará militares no próximo mandato.

Rodríguez, o novo vice, além de ser militar, nos últimos anos foi o retrato da subserviência. Ele esteve na direção da autoridade eleitoral venezuelana em 2004, quando foi realizado o referendo em que a população confirmou que queria manter Chávez no poder. ¿Há suspeitas de que essa nomeação poderia ser a retribuição por Rodríguez ter permitido fraudes naquelas eleições¿, disse ao Estado Manuel Caballero, o mais respeitado historiador venezuelano.

Tanto o novo vice quanto os novos ministros têm discursos mais radicais que seus antecessores. ¿Carrenho, também militar, é uma figura folclórica, que vê conspirações da oposição e das `forças imperialistas¿ em toda parte¿, afirma Caballero. Já Rodrigo Cabezas, que estará à frente da pasta das Finanças, é um entusiasta do ¿Socialismo do Século XXI¿, que Chávez quer implementar na Venezuela, e um crítico voraz do modelo capitalista.

PARTIDO ÚNICO

A idéia de criar um partido único foi anunciada no mês passado por um Chávez animado por ter obtido 63% dos votos nas eleições de 3 de dezembro. A maior parte dos partidos da coalizão de apoio ao presidente disse endossar a idéia - o que não quer dizer que todos os chavistas estejam de fato contentes com ela. ¿Alguns líderes de partidos secundários perderão poder¿, disse Jimenez. ¿Por enquanto todos estão unidos em torno de Chávez, mas se ele continuar a privilegiar as correntes ideológicas mais radicais em detrimento das outras, não vai demorar para que surjam dissidências no chavismo.¿