Título: Justiça argentina discute ortotanásia
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2007, Vida&, p. A15

A Justiça argentina está analisando um caso inédito no país: a possibilidade de desligar os aparelhos que mantém vivo o garoto Brian Andrade, de 5 anos, em coma desde abril de 2005, em um hospital da cidade de Puerto Madryn, na Patagônia. Os médicos do Hospital Andrés Isola, onde Brian está internado, argumentam que não podem fazer nada para recuperá-lo. Mas os pais rejeitam a possibilidade de desligar as máquinas.

Brian está em coma desde que foi atropelado e teve traumatismo craniano. Os médicos argumentam que o estado do menino é irreversível. O caso ganhou repercussão nacional e desatou um debate intenso sobre bioética - que envolveu o próprio Ministro da Saúde, Ginés González García.

A polêmica começou quando os médicos propuseram aos pais de Brian o desligamento dos aparelhos. Após três tentativas para convencê-los, os médicos recorreram à Justiça. No meio da polêmica, a Secretária de Saúde de Chubut, Graciela Di Perna, deu respaldo à decisão do Comitê de Bioética do hospital. Os pais de Brian, José Andrade, de 24 anos, e Balbina, de 20, estão desesperados diante da perspectiva de que o hospital desligue as máquinas. Eles argumentam que o menino dá sinais de sair do coma e que, ocasionalmente, abre os olhos e fixa a visão. Os médicos afirmam que esses sinais não passam de reflexos de um corpo em coma.

¿Não assinaremos a sentença de morte de nosso filho¿, sustenta a família Andrade. ¿Deus saberá o momento de levá-lo para sempre. Enquanto isso, não faremos nada para que a morte ocorra¿, dizem.

O casal conta com o respaldo do prefeito da cidade, Carlos Eliceche, e do governador de Chubut, Mario das Neves. Os analistas não descartam que o apoio de alguns políticos aos Andrade não passe de oportunismo eleitoral, já que neste ano serão realizadas eleições gerais.