Título: Argentinos podem bloquear Uruguai por terra e rio
Autor: Palacios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/01/2007, Economia, p. B3

Viajar da Argentina para o Uruguai será possível somente por via aérea nos próximos dias. Se as ameaças feitas nesta semana se concretizarem, as vias terrestres e fluviais estarão bloqueadas por argentinos que protestam contra a instalação de fábricas de celulose na área da fronteira.

A principal protagonista dos protestos é a Assembléia Popular de Gualeguaychú, cidade fronteiriça do lado argentino, que anunciou nesta semana a ampliação dos bloqueios nas pontes que a ligam à cidade uruguaia de Fray Bentos.

Além disso, os representantes da assembléia anunciaram que farão piquetes de surpresa no Porto de Buenos Aires, de modo a impedir a partida de barcos que levam argentinos para as praias uruguaias.

A idéia é radicalizar os protestos para pressionar o governo do presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, a suspender a construção da fábrica de celulose da finlandesa Botnia em Fray Bentos, na margem do Rio Uruguai.

Os habitantes argentinos da fronteira alegam que a fábrica causará um 'apocalipse' ambiental e econômico que arruinará a região. Os uruguaios afirmam que a fábrica segue rigorosos padrões ambientalistas e, portanto, não polui. Além disso, afirmam que o investimento da Botnia, de US$ 1,2 bilhão, o maior da história do Uruguai, promete impulsionar a recuperação econômica do país.

O ambientalista Jorge Frixler, um dos líderes da assembléia, afirmou que os piquetes em Buenos Aires contarão com o apoio de manifestantes portenhos, além dos gualeguaychenses que estarão na capital argentina para realizar o bloqueio ao porto. Os integrantes da assembléia têm vasto know how em piquetes, já que, desde janeiro de 2006, bloquearam a ponte entre Gualeguaychú e Fray Bentos durante 106 dias.

O apoio portenho partiria dos grupos de piqueteiros e movimentos de esquerda. Os três principais grupos podem mobilizar quase 100 mil pessoas em Buenos Aires. Os piquetes de surpresa também ocorreriam em frente à empresa Buquebus, que transporta passageiros e veículos entre Buenos Aires e as cidades uruguaias de Colonia, Montevidéu e Punta del Este. A Assembléia também informou que filmará os turistas argentinos 'traidores', que partam para o território 'inimigo'.

Além disso, jogariam ovos podres sobre os navios que façam o percurso entre os dois países. Mais de 5 mil pessoas viajam diariamente entre os dois países por meio dos ferries.

A Polícia Naval estava alerta para impedir qualquer ato que bloqueie a saída de navios. Mas, nos últimos meses, o presidente Néstor Kirchner deixou claro que, embora não concorde com os piquetes, não ordenará às forças de segurança que reprimam os manifestantes.

Por causa dos bloqueios terrestres e dos eventuais piquetes fluviais, o Ministério do Turismo do Uruguai calcula que o país receberá 120 mil turistas argentinos a menos neste verão. O balneário de Punta del Este detectou, em dezembro, a queda de 20% de turistas argentinos em relação ao mesmo mês de 2005. No ano passado, os piquetes argentinos implicaram perdas de mais de US$ 400 milhões à modesta economia uruguaia.