Título: 'É bobajada disputar paternidade das obras'
Autor: Tosta, Wilson e Rodrigues, Alexandre
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2007, Nacional, p. A7
Política de resultados. Com essa expressão, o governador Sérgio Cabral Filho (PMDB) resume suas duas primeiras semanas no comando do Rio de Janeiro, marcadas pela consolidação das alianças com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Cesar Maia (PFL), adversários de seus antecessores Rosinha e Anthony Garotinho (PMDB). Ele se mostra encantado com os primeiros frutos desse pragmatismo - acesso direto ao presidente, verbas liberadas sem demora, Força Nacional de Segurança à disposição, convênios com a prefeitura - e desconversa quando lhe perguntam se rompeu com o casal que patrocinou sua candidatura.
'Não quero olhar para trás', diz nesta entrevista ao Estado, entre tragadas em um cigarro de palha - com o qual pede para não ser fotografado - e goles de Coca-Cola Light, em seu gabinete no Palácio Guanabara. Ele critica programas vistosos e pouco eficientes, diz que não fará propaganda, jura que não pensa em reeleição - pelo menos no momento - e descarta a hipótese de disputar a Presidência. 'Em 2010, sou candidato a presidente do Vasco.'
O senhor assumiu gerando muitas expectativas. Não teme enveredar por um certo voluntarismo e acabar decepcionando, como aconteceu com o presidente Lula?
Primeiro, acho que o presidente Lula se saiu muito bem. Há problemas no Brasil, mas o presidente foi reconhecido pela população como um bom presidente e foi reeleito. Segundo, eu vejo sempre os problemas como oportunidades de solução. Os problemas são muitos, o Estado tem um baú de problemas em todas as áreas. Mas montei um secretariado de alto nível técnico, de alta competência para enfrentar os problemas. Cabe a mim, como governador, dar o tom e o ritmo deste governo, e é o que eu estou fazendo.
Mas o senhor não teme gerar uma expectativa para a população e depois frustrá-la, se as coisas não se concretizarem?
Acho que as coisas já estão se concretizando. Da minha decisão política, administrativa, para a materialização, há um tempo. É a velha história, aquela máxima do José Maria Alckmin. O sujeito pergunta: 'Estou desesperado, dr. Zé Maria, minha mulher está grávida de nove meses e eu não sei o que faço, estou desempregado...' Ele: 'Meu filho, se você sabe há nove meses e não sabe o que faz, imagine eu, que estou sabendo agora!' Estou há menos de duas semanas no governo, enfrentando uma série de dificuldades, mas dando respostas. Concordo que há uma expectativa muito grande, essa expectativa é positiva, porque mostra que a população está confiando na nossa ação e, por outro lado, temos de dar resposta.
Mas chega uma hora em que a lua-de-mel acaba...
O maior erro é não admitir erros. A matéria do New York Times (que apontou violência no Rio)... É exagerada? Pode ser, comparar ao Iraque, etc. Mas eu vou brigar com uma matéria? É fato que há um problema de violência sério no Rio. É fato que as pessoas estão assustadas. Então, é fato que temos de trabalhar para enfrentar esse problema. Não adianta ficar escondendo. Não dá. Por que demiti o diretor do Getúlio Vargas com menos de 24 horas? O sujeito não pode me explicar que não tem ortopedista e aí ninguém atende o cidadão que está lá com a perna quebrada. Vai limpar o joelho do cara, vai botá-lo deitado com mais conforto, vai fazer alguma coisa! Você não pode aceitar uma situação dessas, você não pode banalizar o mau atendimento.
O senhor tem demonstrado preocupação em ir aos lugares, ver os problemas diretamente. Qual é o objetivo disso?
O governador é o fomentador. É o dia inteiro empurrando as ações. Esse é o meu papel. E, ao visitar um local desses, eu estou estimulando a solução, que eu quero ver aquilo solucionado. Não adianta inventar uma delegacia nova, se a delegacia convencional não está indo bem. Não adianta inventar um hospital novo, um programa, se o que é essencial para o Estado não está funcionando. 'Ah, mas você não fez um grande programa...' Não estou preocupado. Por que o Cheque-Cidadão acaba e entra o Bolsa-Família? Porque tem um programa nacional, do governo federal, que funciona, que é transparente.
Cheque-Cidadão é um programa dos Garotinho. O senhor desde a campanha vem se afastando do casal Garotinho, que é de seu partido e apoiou sua candidatura. Rosinha diz que deixou R$ 630 milhões e o senhor encontrou menos...
Eu não quero olhar para trás...
Essa parceria com a União, aparentemente, vai se dar em todos os campos, não? É uma mudança radical em relação ao que havia...
Você repare: em menos de um mês, o Rio já recebeu a visita de vários ministros, menos de duas semanas. Isso é um negócio raro, muito positivo. Vou contar para vocês um episódio de domingo. Sexta-feira, liguei para o ministro Pedro Brito (da Integração Nacional): 'Estamos com um problema'. 'Quando é que o senhor quer que eu esteja aí?' 'Domingo.' Domingo ele foi comigo visitar os pontos do problema. Chegamos de Nova Friburgo sete e meia da noite. Oito e meia, estou em casa com a Adriana (mulher de Cabral), falo: 'Adriana, vou incomodar o presidente no descanso dele.' Liguei para o Palácio da Alvorada, sabia que ele estava no Guarujá, mas não queria ser incômodo, não sabia como localizá-lo, liguei para o Alvorada. A secretária fez a transferência da ligação, o presidente me atendeu no Guarujá. Eu disse: 'Presidente, estamos com este problema.' Ele disse: 'Amanhã, estão liberados os recursos.' E liberou. Os recursos estão aí. Então, quer dizer, isso é um fato absolutamente maravilhoso para o Rio de Janeiro.
O prefeito Cesar Maia também...
O prefeito Cesar Maia. Eu vou ficar olhando o que foi feito na campanha (quando foram adversários)? Nada. Vou olhar para a frente. Não quero ficar disputando paternidade de obra, direito autoral de iniciativa, acho uma bobajada, isso prejudica a população. Quem se beneficia com a grife é o político, não a população.
E em 2010?
Em 2010, sou candidato a presidente do Vasco, que é o meu projeto pessoal.
O senhor não é candidato à reeleição?
Neste momento, não.
E a Presidência, não seria um caminho natural, se o seu governo tiver sucesso?
Não, não, não! O Rio pagou um preço altíssimo por esse desejo. Acho que o Rio pode se beneficiar do relacionamento com o governo federal, com os municípios. A ambição tem de estar subordinada ao projeto político-administrativo. Se o projeto eleitoral estiver na frente, é uma bobajada. Quero fazer as coisas acontecerem no Estado.
O senhor acha que o sucesso de seu governo depende disso?
Pragmatismo, política de resultados. Esse é o caminho para que as coisas aconteçam.