Título: Evo propõe referendo popular para revogar mandatos de autoridades
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2007, Internacional, p. A12
O presidente boliviano, Evo Morales, anunciou que seu governo vai elaborar um projeto de lei para instituir a destituição pelo voto popular das autoridades ¿que não cumpram seus compromissos¿ e evitar, assim, conflitos como os de Cochabamba. ¿Se o povo sabe que, pelo voto, pode revogar um mandato, acabarão conflitos como este¿, afirmou Evo em entrevista coletiva em La Paz no fim da noite de sexta-feira, comentando os confrontos dos últimos dias entre sindicatos que apóiam seu governo e simpatizantes do governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa.
Em resposta, Reyes Villa disse ontem que está disposto a submeter-se o quanto antes ao referendo popular sobre seu mandato, para que Cochabamba volte à normalidade. ¿Estou decidido a dar um passo ao lado em meu pedido de referendo sobre a autonomia e estou disposto a cumprir o que o povo cochabambino decidir em um referendo revogatório de mandato, como propõe o presidente Evo¿, afirmou à rede de TV Unitel.
Os camponeses cocaleiros pró-Evo exigem a renúncia do governador, que tem insistido na realização de um novo referendo sobre a autonomia da região. Confrontos entre eles e partidários do governador deixaram dois mortos e cerca de 200 feridos na quinta-feira.
A nova proposta de Evo prevê que prefeitos, governadores e o próprio presidente possam ser derrubados por referendo popular, em caso de má administração, atos de corrupção ou violação dos direitos humanos. O projeto de lei será debatido no Congresso assim que for redigido, segundo o presidente.
Evo aproveitou para agradecer aos movimentos sociais por terem ouvido seu pedido para que não buscassem ¿vingança¿ na nova manifestação realizada sexta-feira na Praça de Armas, a principal de Cochabamba. O protesto foi amplamente pacífico, mas um grupo tentou ocupar o prédio da rede de TV Unitel, acusada pelos manifestantes de divulgar informações contrárias ao governo central. No confronto com a polícia, que impediu a ocupação, quatro pessoas ficaram feridas.
Depois do confronto, os camponeses começaram a abandonar a Praça de Armas, que mantinham ocupada desde segunda-feira. Mas anunciaram que continuarão vigiando a cidade, à espera da saída do governador.
Ontem à tarde, a situação era calma em Cochabamba. As estradas de acesso à terceira maior cidade boliviana, que vinham sendo bloqueadas desde terça-feira pelos camponeses, já estavam liberadas. Segundo o dirigente sindical e deputado do governista Movimento ao Socialismo (MAS), Asterio Romero, a suspensão do bloqueio de estradas foi determinada na sexta-feira, numa assembléia em que os grupos sindicais mantiveram, porém, a exigência de renúncia de Reyes Villa.
Reyes Villa reuniu-se em Santa Cruz com o presidente da Conferência Episcopal da Bolívia, o cardeal Julio Terrazas. O cardeal anunciou que aceita mediar o conflito de Cochabamba, como pediram os cinco governadores que fazem oposição a Evo, citando a ¿vocação de paz¿ da Igreja e ressaltando ¿a necessidade de construir consensos na busca de uma Bolívia para todos e da reconciliação nacional¿.