Título: BR-040, uma rodovia de contradições
Autor: Pereira, Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/01/2007, Economia, p. B3

Principal via de ligação da capital do País com o Sudeste, por onde circulam bens, pessoas e boa parte da produção agrícola do Centro-Oeste brasileiro, a rodovia federal BR-040 é um exemplo das contradições da malha rodoviária nacional. Nos seus 1,2 mil quilômetros de extensão, o único trecho considerado ótimo pelos usuários é a faixa de 170 km entre Juiz de Fora e o Rio de Janeiro, administrada pela iniciativa privada, com pedágio.

No restante, há uma sucessão de trechos danificados, intercalados com segmentos em estado razoável e poucos considerados bons. A situação foi amenizada depois da operação tapa-buracos, realizada pelo governo no fim do ano passado, mas ainda está longe de ser considerada ideal. 'A cada ano bom como este, geralmente perto de eleições, temos dois ou três anos ruins', disse o caminhoneiro Aloísio Pires.

Com 46 anos de idade e 25 de estrada, Pires dirige uma cegonheira da Sada Transportadora. Ele disse que desde o ano passado, após a onda de pressões, tem notado volume intenso de obras nas rodovias, mas ainda assim prefere pagar pedágio para ter estradas mais seguras. 'O pedágio é caro, mas compensa porque estrada melhor gasta menos pneu, estraga menos o carro e a gente corre menos risco de acidente.'

O empresário Lincoln Tagliaferre também não entende o que chama de 'miopia' da classe política, que resiste à solução do pedágio como garantia da qualidade das rodovias. Se eles (políticos) que decidem as coisas em Brasília andassem menos de avião e mais de carro saberiam a diferença entre uma opção e outra.'

O pior trecho da BR-040 são os 700 km de pista única entre Brasília e Belo Horizonte, com muitos buracos, acostamento precário e sinalização apagada ou inexistente em vários locais. A buraqueira começa logo a 25 km do Plano Piloto.

Os longos períodos de abandono da rodovia, entre uma eleição e outra, fazem bem ao borracheiro Nelson Miranda, no Posto JK, em Cristalina, Goiás, a 150 km de Brasília. Ele chega a faturar três vezes mais nos períodos de estrada ruim, como até 2006. 'Pelo que sei, nas estradas com pedágio há menos serviço para borracheiro.'