Título: Ipea reduz projeção do PIB para 2,8%
Autor: Chiarini, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/12/2006, Economia, p. B1
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão do Ministério do Planejamento, reduziu sua projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano de 3,3% para 2,8% e manteve a do ano que vem em 3,6%. É a primeira vez que um órgão do governo projeta menos de 3% para a expansão econômica de 2006.
O número está em linha com a previsão do mercado financeiro, que, na média, espera 2,86% de aumento do PIB deste ano, segundo pesquisa do Banco Central com instituições financeiras divulgada segunda-feira (Focus). Para 2007, a projeção do Ipea está um pouco acima da média do mercado, que é de 3,5%, mas ainda longe do desejado pelo governo, que é de 5%.
O principal motivo para a revisão foi o forte crescimento das importações, que surpreendeu o Ipea este ano, assim como o câmbio, com o real mais valorizado do que se esperava ante o dólar. A projeção de aumento das importações de bens e serviços foi ampliada de 14% para 16,8%. As exportações tem crescimento previsto de 4,6%, em desaceleração em relação a 2005, quando a pesquisa do PIB registrou expansão de 11,6%.
O diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, observou que, com a queda dos juros e o aumento da massa salarial, o consumo cresceu e deve ficar em alta, com 4,2% este ano e 5,2% no ano que vem. Porém, a produção não acompanhou, atingida pela expansão das importações e pela desaceleração das exportações.
A projeção para a indústria como componente do PIB, que inclui construção civil e serviços como energia elétrica, recuou de 4,2% para 3,2%. Considerando apenas a indústria de transformação e a extrativa mineral, a previsão de crescimento é de apenas 2,8%. O desempenho dos segmentos industriais está abaixo do esperado, com exceção do de máquinas e equipamentos. A projeção para o setor de comércio e serviços ficou estável, com pequena queda de 2,4% para 2,3%. Já a de agropecuária subiu de 2,3% para 3%.
Para o ano que vem, as projeções são de 4,4% na agropecuária, de 4,7% na indústria (com construção civil e serviços de utilidade pública) e de 2,7% no setor de serviços.
O economista do Ipea Fábio Giambiagi observou que a demanda interna vai contribuir com 4,1 pontos porcentuais para o PIB deste ano, segundo o Ipea. Mas a demanda externa, principalmente por causa do crescimento das importações, vai contribuir negativamente com 1,3 ponto porcentual, levando o crescimento do PIB para 2,8%. 'Se a contribuição da demanda externa fosse como a do ano passado (de 0,8 ponto), o PIB estaria crescendo 4,9% em vez de 2,8%.'
Para Levy, as medidas que o governo prepara para aumentar o ritmo de crescimento estão na direção certa ao desonerar os investimentos e estimular a construção civil. Giambiagi observou que a construção civil cresceu 1,3% em 2005 e tem projeções de 5% este ano e de 6,2% para 2007.
Segundo Levy, os indicadores são de que a economia brasileira não tem problemas de demanda que restrinjam o crescimento econômico, mas sim de oferta.Assim, considera que 'a política monetária tem de ser gradual mesmo'. Ou seja, a causa do baixo crescimento não estaria nos juros altos, mas em fatores que tiram competitividade da produção nacional.
'Questões que eram encobertas pelo câmbio desvalorizado estão aparecendo', disse Levy, referindo-se à carga tributária, gargalos de infra-estrutura e questões trabalhistas.