Título: Ex-presidente da Varig é intimado
Autor: Komatsu, Alberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/01/2007, Economia, p. B9

A Justiça do Rio intimou ontem o ex-presidente da Varig, Marcelo Bottini, a prestar esclarecimentos sobre o favorecimento de cerca de 20 executivos do alto escalão, suspeitos de receber indenizações trabalhistas antes mesmo de serem demitidos.

A investigação é do Ministério Público do Trabalho (MPT), que já tem provas e documentos oficiais da Varig comprovando o pagamento de até R$ 150 mil a apenas um gerente na gestão de Bottini. Já os 9 mil trabalhadores que foram demitidos, a partir de julho do ano passado, ainda não receberam salários atrasados. A dívida é estimada em R$ 150 milhões.

¿Embora não haja nada formal sobre isso no processo (de recuperação da Varig), eu me adiantei em virtude das notícias gravíssimas sobre o assunto¿, afirma o juiz Paulo Roberto Fragoso, integrante da comissão de juízes responsável pela recuperação judicial da Varig.

Chamou a atenção do MPT pagamentos que teriam sido realizados antes do leilão da Varig, ocorrido no dia 20 de julho de 2006. Caso Bottini não seja encontrado, o gestor judicial da Nordeste (Varig antiga), Miguel Dau - que investigou a história e produziu um relatório apontando irregularidades na empresa -, deverá indicar quem pode fornecer as informações solicitadas. O objetivo é encontrar os responsáveis pelos pagamentos. Bottini está trabalhando na Aerolíneas Argentinas, em Miami. Procurado por telefone e por e-mail, o ex-presidente da Varig não retornou até o fechamento desta edição.

O favorecimento a diretores e gerentes da Varig veio à tona por meio de denúncias de funcionários. No relatório produzido por Miguel Dau, além das irregularidades com o favorecimento a diretores, foi apontado um outro problema: de fevereiro a julho do ano passado, a Varig reteve o imposto de renda dos funcionários, no valor de R$ 28,6 milhões, ¿sem o devido recolhimento¿ a Receita Federal.

A Varig diz que vai tentar saldar o débito com a Receita o mais rápido possível. Estuda-se a possibilidade de liquidar o saldo com os créditos que algum devedor da companhia aérea tenha junto à Receita. A companhia entende que a dívida efetiva seria da ordem de R$ 15 milhões, referente aos meses de janeiro a abril de 2006. Como de abril a julho a empresa não pagou salários, entende que não houve ¿apropriação indébita¿.