Título: Planalto se mobiliza para evitar que ação de FHC afete apoio a Chinaglia
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2007, Nacional, p. A4
A crítica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao apoio anunciado pelo PSDB a Arlindo Chinaglia (PT-SP) na disputa pela presidência da Câmara acendeu a luz amarela no Palácio do Planalto. O temor é de que as declarações de FHC contribuam para minar o favoritismo do petista e favoreçam o lançamento de um candidato alternativo ao petista e a Aldo Rebelo (PC do B-SP), não ligado ao governo. O Planalto optou então por tentar isolar FHC e minimizar a crise vivida pelo PSDB.
¿Fernando Henrique não tem voto na Câmara¿, afirmou ontem o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, que declarou não acreditar que as críticas do ex-presidente possam reverter o acerto entre o PSDB e Chinaglia. O ministro Tarso Genro, das Relações Institucionais, tentou relacionar o movimento de Fernando Henrique à disputa interna no PSDB. Ele disse ontem que as declarações do ex-presidente são ¿uma tentativa de delimitar quem vai comandar o PSDB pelos próximos anos¿. E foi além: ¿Ele faz isso não é porque queira desestabilizar a democracia, mas certamente porque isso diz respeito ao futuro do PSDB.¿
A crise entre os tucanos começou na quinta-feira, quando o líder Jutahy Júnior (BA) anunciou apoio a Chinaglia, em nome da bancada do PSDB na Câmara. Jutahy disse na ocasião que havia sido feita uma consulta por telefone aos deputados tucanos, mas no mesmo dia foi contestado por colegas de bancada. O mal-estar interno cresceu na sexta-feira, quando Fernando Henrique divulgou nota afirmando que o acordo era ¿precipitado¿ e convocando o partido a recuar do anúncio.
Os governadores de São Paulo, José Serra, e Minas, Aécio Neves, foram apontados como patrocinadores do acordo, porque teriam acertado como contrapartida facilidades nas eleições para as presidências das Assembléias Legislativas de seus Estados. Também teria sido negociada com Chinaglia a primeira vice-presidência da Câmara.
Marco Aurélio Garcia ressalvou ontem que Fernando Henrique tem direito de opinar sobre a disputa à presidência da Câmara. ¿Ele é presidente de honra do PSDB, tem direito de opinar¿, disse. ¿Se ele resolveu se meter na campanha, está bem, mas este é um problema de briga interna do PSDB.¿
O assessor especial de Lula acredita que um nome alternativo ao de Chinaglia e Aldo não sai ¿por falta de voto¿. Para ele, o grupo que se intitula bancada ética não consegue lançar um nome viável para a disputa.
Tarso Genro tentou minimizar a importância do apoio dos tucanos, afirmando que se trata apenas de fazer valer a regra tradicional pela qual o partido com mais deputados deve comandar a Casa. ¿Fernando Henrique está questionando um princípio legal e jurídico que vem norteando a Câmara ao longo da história¿, afirmou.
Para o ministro, parte do PSDB está repondo ¿uma política histórica, de décadas, obedecendo à proporcionalidade das maiorias¿. O ministro avisou ainda que este gesto dos tucanos não representa nenhum acordo do PSDB com o PT. ¿O PSDB não fez nenhum movimento em direção ao PT, não fez nenhum acordo político nem programático com o PT e isso não desfigura sua função de oposição. Pensar isso é um equívoco profundo.¿
Há outra preocupação em setores do governo e nas conversas com os aliados, principalmente petistas, no Congresso: para que não haja ataques a Aldo, aliado antigo do presidente Lula. ¿Aldo é um bom nome, só que, agora, acreditou-se que Arlindo poderia aspirar a esta posição e ele se revelou um bom candidato¿, disse Garcia.