Título: 'A filosofia é crescimento, crescimento, crescimento'
Autor: Grinbaum, Ricardo e Cançado, Patrícia
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/01/2007, Negócios, p. B8

A recente onda de private equity é uma vitória para os persistentes. Os fundos começaram a investir na década de 90 com expectativa de obter um retorno em até cinco anos. Vieram crises internas e externas e boa parte dos investidores desistiu no meio do caminho vendendo seus negócios na baixa. Aqueles que puderam esperar, estão colhendo os resultados agora.

A Stratus é um exemplo dessa visão de longo prazo. Álvaro Gonçalves, sócio de administradora de recursos Stratus, era um executivo com passagens por empresas em reestruturação, como a Lacta. No final dos anos 90, foi convidado pelo Banco Pactual para montar um fundo de private equity junto com os ingleses da Electra Fleming. No meio do caminho, as crises atropelaram o lançamento. Ele se desligou do Pactual, vendeu carro, apartamento e, com Alberto Camões, reuniu algumas centenas de milhares de reais para montar a Stratus, em 1999.

O primeiro investimento, porém, só veio em 2002. 'Vivemos um inverno nuclear entre 1999 e 2004. No começo, achávamos que a crise monetária iria varrer do mercado os pára-quedistas e sobrar os fundamentalistas. Mas a gente penou mais do que imaginava', diz Gonçalves.

No início, Gonçalves não captou dinheiro, mas ganhou conselhos valiosos de alguns dos principais administradores dos fundos de private equity do mundo. Até hoje, figurões como o ex-secretário do Tesouro americano Nicholas Brady, fundador do Darby Overseas, ainda ligam para trocar idéias com Gonçalves e seu sócio.

A insistência compensou. A Stratus já investiu US$ 115 milhões, vai captar US$ 320 milhões só neste ano e espera ter sob sua gestão US$ 2,5 bilhões até 2010. Até agora, as aplicações se concentraram numa modalidade conhecida como venture capital, especializada em empresas embrionárias.

A jóia da coroa da Stratus é a Neovia, empresa que desenvolve a tecnologia WiMAX (de acesso à internet sem fio). Quando ela recebeu investimento, seu faturamento anual era de R$ 200 mil. Hoje, três anos depois, fatura R$ 40 milhões. Álvaro acredita que em 2008, quando a cobertura WiMAX deve ficar pronta, a Neovia pode valer R$ 500 milhões.

A retomada dos fundos de private equity deve mudar o ambiente de negócios no Brasil. A injeção de capital é um jeito das empresas, principalmente pequenas e médias, crescerem rápido e se consolidarem. 'As empresas que não se adaptarem a essa nova realidade vão perder, porque o concorrente vai pegar o dinheiro e se fortalecer', diz Alexandre Saigh, sócio-diretor do Banco Pátria.

O Pátria é um dos pioneiros. Ele fez seu primeiro investimento em 1994, quando ficou sócio da rede de farmácias Drogasil. Nem todos os negócios foram bem sucedidos, mas perdas foram compensadas por ganhos extraordinários. Na Diagnósticos da América (Dasa), eles ganharam dez vezes o valor investido (em dólar) em cinco anos.

Esse novo ciclo é diferente do anterior, ocorrido em 1995. Segundo a vice-presidente do fundo Darby para a América Latina, Cristina Penteado, o atual momento conta com dinheiro de fundos de pensão brasileiros e tem fundos especializados no setor de infra-estrutura. Além disso, o ciclo entre a entrada e a saída do fundo numa empresa está mais curto. Em alguns casos, surpreendentemente rápidos, como a compra da rede de lojas de aeroporto Brasif pela Advent. Em menos de um ano, o fundo comprou por US$ 500 milhões e vendeu menos de 30% por US$ 370 milhões na Bolsa. 'A filosofia do private equity é crescimento, crescimento e crescimento', diz Patrice Etlin, da Advent.