Título: FMI ataca modelo econômico da Venezuela e elogia o Brasil
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/01/2007, Economia, p. B4
O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, criticou ontem as medidas econômicas anunciadas pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e elogiou o desempenho da economia brasileira. ¿O governo (venezuelano) tem de levar em conta que decisões com objetivos de curto prazo, para aumentar a receita do governo, podem ir contra decisões de médio prazo, de aumentar investimentos; e, do ponto de vista de crescimento, investimento é um elemento muito mais importante.¿
Ele ressalvou que não conhece detalhes da estatização anunciada por Chávez e não quer fazer ¿julgamentos ideológicos¿. ¿Aconselharíamos o governo venezuelano a manter as condições de investimento estáveis; se decidir mudar a propriedade dos meios de produção, na nossa opinião, isso tem de ser feito de forma ordenada.¿
Rato criticou também a iniciativa de Chávez de acabar com a autonomia do Banco Central. ¿A autonomia do BC é um elemento muito importante da estabilidade macroeconômica em qualquer país¿, disse. Ele citou Brasil, México e Colômbia como exemplos de como ¿uma maior independência do Banco Central¿ favorece a política anti-inflacionária.
O diretor-gerente do Fundo elogiou a política econômica brasileira. ¿No Brasil, vimos um desempenho muito bom em termos de estabilidade macroeconômica e redução de pressões inflacionárias¿, disse Rato. Ele afirmou que o Fundo concorda com a agenda do governo brasileiro de aumentar o crescimento, mantendo estabilidade macroeconômica. Mas Rato afirmou que, para o Brasil entrar em rota de crescimento sustentado, será necessário não apenas o ajuste fiscal que o País vem realizando. ¿O desafio é a qualidade do ajuste fiscal, em termos de gastos sociais e em infra-estrutura.¿
Rato disse que prefere não especular sobre as declarações do presidente do Equador, Rafael Correa, que anunciou a intenção de renegociar a dívida do país e acabar com a independência do Banco Central. ¿Uma equipe do Fundo esteve com o ministro Patiño e ele disse que ainda não foram tomadas decisões sobre esse assunto.¿
O líder do Fundo fez uma advertência aos países latino-americanos que vêm se beneficiando dos altos preços do petróleo. ¿As oportunidades proporcionadas pelo alto preço do petróleo deveriam ser base para uma transformação estrutural e aumento de transparência.¿ Mas, de forma geral, ele vê um cenário benigno para a região, que cresceu 5% no ano passado, a expansão mais vigorosa desde os anos 70.
O Fundo está otimista em relação às perspectivas de crescimento da economia mundial e acredita que há menos riscos, na comparação com o meio do ano passado. ¿O crescimento global vai continuar sólido em 2007, aproximando-se de 5%¿, disse Rato. Em 2006, segundo estimativas do Fundo, a economia global cresceu 5,1%. ¿A queda do preço do petróleo reduziu riscos de demanda agregada e pressão inflacionária.¿
Segundo Rato, cresceu a probabilidade de os Estados Unidos terem uma ¿aterrissagem suave¿, e não um ¿pouso abrupto¿, porque a queda dos preços de energia possibilitou a redução do desemprego e o aumento do consumo, e o país está lidando bem com a retração do mercado imobiliário. Ele também acha que as possibilidades de uma ¿contaminação¿ da desaceleração americana são menos prováveis. ¿A recuperação da Europa se ampliou e o Japão voltou a dar sinais de crescimento; os países emergentes, principalmente China e Índia, continuam vigorosos.¿
Para Rato, o desequilíbrio global ainda representa um risco, embora menos iminente. O diretor-gerente do fundo voltou a exortar a China a valorizar sua taxa de câmbio. Rato disse ainda que o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan está coordenando um grupo de estudos sobre possível colaboração entre o Banco Mundial e o FMI.
FRASES
Rodrigo de Rato Diretor-gerente do FMI
¿O desafio (do Brasil) é a qualidade do ajuste fiscal, em termos de gastos sociais e em infra-estrutura¿
¿O crescimento global vai continuar sólido em 2007, aproximando-se de 5%¿
¿A queda do preço do petróleo reduziu riscos de pressão inflacionária¿