Título: Para mover diplomacia, Chávez força aumento no preço do petróleo
Autor: Leite, Paulo Moreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2007, Internacional, p. A11

Setenta e duas horas depois de o barril de petróleo venezuelano ter caído para US$ 46,80, acendeu uma luz vermelha no coração do governo de Hugo Chávez. Presidente do mamute estatal PDVSA e, simultaneamente, titular do Ministério do Petróleo e Energia, Rafael Ramírez passou a manhã de ontem em conversas com países aliados da Opep, num esforço para garantir uma subida de quase 10%. Os diálogos deixaram o ministro preso ao telefone por mais tempo do que o previsto. Em seguida, numa entrevista coletiva em Caracas, Ramírez anunciou medidas duras para garantir que as empresas exportadoras do petróleo cumpram os cortes na exportação para diminuir a oferta no mercado internacional - uma primeira facada ocorreu no segundo semestre de 2006 e outra entrará em vigor em 1º de fevereiro.

O cuidado de Ramírez tem razão de ser. O petróleo perdeu mais de 20% de seu valor de agosto até hoje - e cada centavo a menos representa uma pedra no caminho de Chávez, podendo afetar sejam os benefícios sociais, programas de crédito e investimentos feitos no país, seja uma política externa que envolve Cuba, Bolívia, Nicarágua e Equador a partir de ideologia e combustível barato. São as exportações de petróleo que equilibram as reservas do país e, a partir de um determinado patamar, asseguram ao governo um excedente de bilhões de dólares que Chávez aplica nos projetos de sua revolução socialista-bolivariana.

¿O debate no país não reside em saber se somos dependentes do petróleo. É claro que somos. O desafio é que ainda somos excessivamente dependentes¿, reconheceu um vice-ministro, ontem, em conversa com o Estado. Segundo estimativas em circulação em Caracas, no passado, o Tesouro apoderava-se de US$ 18 de cada barril de petróleo para pagar suas contas. No governo Chávez, essa conta subiu para US$ 38. Ainda está abaixo dos US$ 46,80 dos últimos dias, mas já é um patamar menos confortável, embora nenhum analista considere uma situação ameaçadora - a maioria aponta para uma situação de estabilidade no mercado internacional.

Em 2006, Ramírez determinou um corte de 138 mil barris diários, numa primeira etapa. Não surtiu efeito. No mês que vem, entra em vigor um corte de meio milhão de barris, num país cuja produção, em tempos normais, fica em torno de 3,3 milhões. Para garantir essa queda, Ramírez informou que o governo fiscalizará o embarque de petróleo nos terminais de exportação, para impedir qualquer tentativa de contrabando.

Ramírez é um dos responsáveis pelas relações especiais que o governo da Venezuela cultiva com Cuba. É uma diplomacia que envolve petróleo, além de muita ideologia. Hoje em dia a Petrobrás só consegue levar adiante projetos em torno de exploração de energia, em Cuba, depois de receber o sinal verde da PDVSA. ¿Sem isso os cubanos nem querem conversa¿, afirma um negociador brasileiro.