Título: Meio-irmão de Saddam é decapitado na forca
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Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2007, Internacional, p. A13
Barzan Ibrahim al-Tikriti, meio-irmão do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein e ex-chefe de Inteligência, e o ex-juiz Awad Hamed al-Bander foram executados na forca, na madrugada de ontem, em Bagdá. Assim como o ex-ditador, ambos haviam sido condenados pela morte de 148 xiitas em Dujail, em 1982. Apesar de os enforcamentos terem transcorridos sem os insultos que marcaram a execução de Saddam, um dos condenados - Ibrahim al-Tikriti - acabou decapitado no momento em que a corda apertou seu pescoço.
O vídeo oficial do enforcamento foi exibido apenas para um grupo de jornalistas, que relataram a cena. Ele mostra o corpo do meio-irmão de Saddam deitado no chão, enquanto sua cabeça, coberta por um capuz, estava a vários metros de distância. A execução do outro colaborador ocorreu dentro do previsto. Os dois foram enterrados ao lado do corpo de Saddam em Awja, vilarejo próximo a Tikrit.
O governo iraquiano disse que a execução foi realizada de acordo com a legislação e que a decapitação foi um acidente. ¿As leis foram respeitadas. Num raro incidente, a cabeça do acusado Barzan Ibrahim al-Tikriti foi separada de seu corpo durante a execução¿, afirmou o porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh.
O inusitado acidente gerou reações dentro e fora do Iraque. Enquanto no reduto xiita de Cidade Sadr, em Bagdá, houve comemorações, os sunitas (seita dos condenados) protestaram. ¿É impossível ocorrer uma decapitação assim. Eles (o governo) mutilaram seu corpo¿, protestou o líder do principal bloco sunita no Parlamento, Khalaf al-Olayan.
Durante visita ao Egito, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, criticou os enforcamentos: ¿Ficamos desapontados. Não há dúvidas de que as execuções poderiam ter sido feitas com mais dignidade¿. A secretária, entretanto, ponderou que elas ¿foram realizadas de acordo com as leis¿. Horas após os enforcamentos, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, afirmou que vai apoiar a campanha feita pela Itália para pressionar a ONU a aprovar uma resolução pela ¿moratória global da pena de morte¿.
Em entrevista à TV Al-Jazira, o médico forense egípcio Fakhri Mohammed Saleh afirmou que, apesar de raras, decapitações podem ocorrer nessas circunstâncias. ¿Algum erro grave aconteceu. Creio que eles usaram uma corda inadequada ou a pessoa que o executou não era experiente.¿
Diferentemente do enforcamento de Saddam, poucas pessoas puderam presenciar as mortes e todos os presentes tiveram de assinar um documento comprometendo-se a se manter em silêncio durante as execuções. ¿(A decapitação) foi acidental, um ato de Deus¿, comentou o porta-voz da presidência, Basam Ridah. Jaafar al Musawi, que foi o promotor do ¿caso Dujail¿ e também esteve na execução, afirmou que Barzan, que sofria de câncer, teve um último momento de fraqueza e gritou ¿Não fiz nada, foi tudo culpa de Fadel al-Barrak¿, em alusão a um outro funcionário da polícia secreta.