Título: Investimento público será a prioridade do pacote econômico
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/01/2007, Economia, p. B1

Economistas ouvidos pelo Estado avaliam que a direção adotada pelo governo no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não deve provocar um salto na taxa de investimento global da economia e levá-la à casa dos 25% do Produto Interno Bruto (PIB), necessária para fazer a economia crescer na casa dos 5% ao ano, como quer o governo. Apesar de ainda não ter sido divulgado (o anúncio está previsto para o dia 22), o PAC atua na direção de forte aumento nos investimentos públicos e promoção de algumas desonerações tributárias para o setor privado, que, entretanto, deverão ficar muito aquém das intenções iniciais do governo.

Apesar da análise otimista dos integrantes do governo, esse caminho, segundo os economistas, não vai despertar o setor privado para investir mais - o que seria fundamental para alavancar a taxa global do País. Atualmente, a taxa de investimentos da economia brasileira gira ao redor de 20% do PIB e, nos últimos anos, o investimento público responde por apenas 2%. A maior fatia é composta pelo investimento privado.

'O pacote ainda está bastante vago, mas não vejo no caminho que o governo está adotando, de aumento no investimento público, um grande estímulo para o aumento da taxa de investimento total e para o crescimento econômico', avalia a economista-chefe do Banco Fibra, Maristela Ansanelli. 'Nessa direção, o País não chega, de jeito nenhum, a uma taxa de investimento de 25% do PIB.'

'O tamanho do Estado brasileiro já é muito grande e o governo ainda quer fazer investimento. A escolha parece fácil, mas não vai levar ao crescimento', afirma Maristela.

Opinião semelhante tem o economista Sérgio Vale, da MB Associados, que chama o PAC de 'Plano de Adiamento do Crescimento'. Ele vê no governo, com base na direção dada ao pacote, um viés muito estatal, que pouco estimula o investimento privado. 'O caminho é reduzir o gasto público, por meio de uma reforma fiscal que atue em problemas como a Previdência e permita a redução geral da carga tributária, para estimular os investimentos.'

O economista ainda vê no PAC uma atuação muito mais pelo lado da demanda do que na oferta, onde se encaixam os investimentos. 'Esse pacote é expansionista no mau sentido e não vai provocar um impacto forte no crescimento', disse, revelando uma opinião que encontra eco numa parcela minoritária do governo.

Quem trabalha no pacote, entretanto, discorda. 'É um equívoco. O pacote ataca sim o lado da oferta na economia, por meio de um conjunto de investimentos públicos prioritários e de desonerações que devem estimular o setor privado a investir mais. O PAC é todo do lado da oferta', rebate um integrante da equipe econômica. 'Acredito que esse será um passo muito importante na direção de elevar os investimentos.'

A fonte do governo também rejeita a tese de que os cortes de impostos serão irrelevantes. 'As desonerações dos investimentos são o carro-chefe. Sempre gostaríamos de avançar mais, mas o que estamos fazendo é muito importante como sinalização para o setor privado.'

O diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, acha positiva a intenção do governo de aumentar os investimentos públicos e promover desonerações. Mas, ressaltando que ninguém ainda conhece o PAC, questiona: 'De onde vai sair a grana para fazer isso? Não vemos medidas de redução de despesas e queremos saber de onde vão sair os ovos para essa omelete'.

Para ele, o pacote só será bem recebido pelo setor privado se o governo produzir um conjunto 'lógico e digno de crença' de medidas que caibam no espaço limitado do orçamento.

O consultor Amir Khair, ligado ao PT, acredita que o pacote vai ajudar a elevar os investimentos e o ritmo de crescimento do País, mas avalia que o maior indutor do setor privado será a situação econômica. Segundo ele, a maior contribuição do pacote seria fornecer mais crédito para as empresas investirem mais.

DICAS

Adriano Blanaru Analista-chefe da Link Corretora ¿A impressão é de que a suspensão das licitações (das rodovias federais) não é definitiva¿ Destaques: Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR),OHL Brasil e ALL Ferrovias

Carlos Nunes Analista da Coinvalores ¿A criação do Fundo de Investimento em Infra-Estrutura e Saneamento de certa forma compensa o veto a benefício fiscal¿ Destaques: CPFL, Tractebel, Copasa, Rossi Residencial e Gerdau

Kelly Trentin Analista da SLW Corretora ¿Não se sabe mais o que vem no pacote depois dos retrocessos da semana passada¿ Destaques: empresas de setores de construção civil, ferrovias e rodovias, de computação e bancos