Título: Fidel 'optou por técnica arriscada'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/01/2007, Internacional, p. A10
O líder cubano Fidel Castro optou por uma técnica cirúrgica mais arriscada, o que causou as complicações que o mantêm agora em estado grave, publicou ontem o El País. De acordo com o jornal espanhol, Fidel não quis se submeter a uma colostomia - ligação entre o intestino e uma bolsa coletora das fezes, na região do abdome. O jornal citou anonimamente duas fontes médicas do hospital madrilenho Gregorio Marañón, onde trabalha o médico José Luis García Sabrido, que esteve com Fidel em Havana, em dezembro.
Fidel sofreu ¿hemorragias intestinais e uma grave infecção (peritonite) causada pela inflamação do intestino grosso, uma doença chamada de diverticulite¿, afirma a reportagem. A diverticulite ocorre pelo envelhecimento natural do intestino e se caracteriza pela formação de hérnias no intestino grosso. O tratamento geralmente é cirúrgico, para retirada da parte do intestino com as hérnias que causam o sangramento.
Após a retirada da parte do intestino afetada, a opção cirúrgica mais indicada era a colostomia. A vantagem é ¿permitir que o intestino grosso cicatrize sem estar submetido à passagem de fluxos gástricos¿, diz o jornal, mas o inconveniente é o paciente ter de carregar uma bolsa coletora de fezes junto ao abdome e, depois, passar por uma segunda cirurgia.
Fidel preferiu a opção mais complicada, diz o jornal: após retirarem a parte inflamada de seu intestino grosso, os médicos ligaram diretamente a parte superior do órgão com o reto, em vez de colocarem uma bolsa de colostomia. O problema foi que os pontos entre o intestino grosso e o reto se romperam, liberando fezes no abdome e causando outra infecção por peritonite, explica a reportagem.
Novas complicações - ¿fracasso de um reto artificial que foi implantado, falha de uma prótese coreana e inflamação da vesícula, entre outras¿ - causando a necessidade de mais duas operações, acrescenta o El País. Pouco antes da visita do médico espanhol a Fidel, em dezembro, os médicos tinham que drenar mais de meio litro de líquidos por dia, segundo a matéria, levando Fidel a perder peso e ter de se alimentar por via intravenosa.
Em entrevista publicada no site da CNN, o médico espanhol Garcia Sabrido disse que houve até ¿melhora progressiva¿, mas se negou a dar detalhes sobre o estado de Fidel. ¿As únicas partes verdadeiras da matéria são o nome do paciente, o fato de ele ter sido operado e de ter tido complicações. O resto são rumores¿, afirmou.
Um diplomata cubano em Madri afirmou à Associated Press, em condição de anonimato, que se trata de ¿uma história inventada¿. As autoridades de Cuba não se manifestaram. O estado de saúde de Fidel é mantido como segredo de Estado. Ele passou o poder a seu irmão Raúl em julho do ano passado e desde então não foi mais visto em público.