Título: Jungmann se explica a eleitores
Autor: Bernardes, Monica
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2007, Nacional, p. A9

Cumprindo espécie de ¿via-sacra¿ junto às suas bases eleitorais em Pernambuco, o deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) - apontado pelos procuradores da República José Alfredo de Paula Silva e Raquel Branquinho como responsável por atos de improbidade administrativa - realizou, ontem, audiência pública para dizer que é inocente. O encontro aconteceu na Assembléia Legislativa do Recife.

Na coletiva à imprensa, Jungmann repassou cópias dos bens declarados: em 1996, uma linha telefônica, um sítio e saldo bancário de R$ 15.000. Em 2006, um veículo Zafira 2001, conta corrente no Banco do Brasil com R$ 2.157 e cotas da Sociedade Paulista de Administração, no valor de R$ 15.846.

O parlamentar enfrenta na Justiça Federal de 1ª Instância ação de improbidade administrativa movida pelos procuradores da República. Ele, mais oito pessoas e três empresas de comunicação são acusados de envolvimento num esquema de desvio de recursos para pagamento de contratos de publicidade do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) durante a segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 1998 a 2002, quando Jungmann era ministro do Desenvolvimento Agrário.

Segundo os procuradores, o esquema teria causado prejuízo de R$ 33 milhões e seria chefiado por Jungmann.

Raquel e Silva concluíram que houve desvio nos contratos fechados com as empresas Artplan e Casablanca, com subcontratações sucessivas e superfaturadas sem licitação e fiscalização

Nesta semana, o advogado de Jungmann entrou com uma reclamação no Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que a ação deveria tramitar no STF e não na Justiça de 1ª Instância. Ele argumentou que, por ser parlamentar, Jungmann tem foro privilegiado e, portanto, o direito de ser investigado e julgado perante o Supremo.

Ontem, os procuradores divulgaram nota oficial na qual afirmam que o deputado não quer ser investigado, processado e julgado. Segundo eles, a reclamação de Jungmann ¿tem por objetivo impedir o regular prosseguimento da ação de improbidade¿.

¿O deputado federal Raul Jungmann, diferente do que declarou para todos os veículos de imprensa do País, não quer ser investigado, processado e julgado pelo Poder Judiciário pela prática de ato de improbidade. Deseja, isso sim (e a reclamação ajuizada é prova disso), simplesmente não ter sequer que responder por seus atos, pois, caso deferida a liminar, o processo será paralisado e nenhuma prova apresentada pelo Ministério Público Federal contra o parlamentar federal será analisada pelo Poder Judiciário¿, concluíram os procuradores na nota.

Segunda-feira, Jungmann encaminhou ofício ao deputado Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética da Câmara, pedindo que o colegiado o investigue. E disse que renunciará ao mandato se algo que o incrimine for encontrado. ¿Renuncio ao meu mandato se alguém encontrar desvio para o bolso de alguém ou para o meu ou para minha conta bancária nesse processo¿, declarou. Também afirmou que pedirá a seu partido que investigue a denúncia.