Título: Inflação nos EUA desacelera em 2006, mas ainda preocupa Fed
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/01/2007, Economia, p. B9

O aperto monetário nos Estados Unidos começa a dar resultados. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 2,5% no ano passado, o menor nível desde 2003. O núcleo do indicador, que exclui os preços de energia e alimentação, encerrou 2006 em 2,6%, o mais alto desde 2001.

Ontem, o Departamento do Trabalho dos EUA informou que o CPI de dezembro ficou em 0,5%, exatamente como previam os analistas do mercado financeiro. O núcleo do índice também ficou dentro do esperado: 0,2%.

O aumento em dezembro foi o maior do CPI desde julho, quando atingiu 0,4%. Em agosto, a inflação ao consumidor foi de 0,2% no país. Em setembro e outubro, o indicador apurou deflação de 0,5% e em novembro, manteve-se estável.

Especialistas avaliam que, embora a pressão inflacionária tenha se suavizado em comparação com a primeira metade de 2006, a moderação provavelmente não está pronunciada o suficiente para convencer os membros do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de que a pressão de preços não é mais uma ameaça.

Esse cenário sugere a manutenção da taxa básica de juros americana no nível atual, de 5,25% ao ano, por um período mais longo do que alguns imaginavam - muitos analistas cogitavam a hipótese de o Fed reduzir o juro já no primeiro semestre de 2007.

Embora os membros do Fed tenham recebido com satisfação a recente moderação nos preços, como deixaram claro em pronunciamentos públicos nos últimos dias, o núcleo da inflação permanece solidamente acima da zona entendida como de conforto pela autoridade monetária, de 1% a 2% ao ano.

Também ontem, o Departamento de Comércio dos EUA informou que em dezembro houve crescimento de 4,5% na construção de casas novas. Os analistas previam que o indicador teria queda de 1,4%. Com os números de dezembro, o ritmo anualizado de novas obras alcançou 1,64 milhão de unidades, o mais alto desde setembro.

O mercado imobiliário americano passou por forte desaceleração no ano passado, que, para alguns analistas, poderia jogar o país na recessão. Esse cenário, por ora, está descartado - e os números do setor em dezembro reforçam essa avaliação.

BERNANKE

Em depoimento à Comissão de Orçamento do Senado, o presidente do Fed, Ben Bernanke, falou pouco sobre conjuntura. Ele concentrou a sua análise em fatores que terão impacto sobre a economia americana no médio e longo prazos.

Em relação ao momento atual, Bernanke destacou os ¿bons¿ dados de produção industrial divulgados na quarta-feira pelo Livro Bege do Fed. A produção industrial cresceu 0,4% em dezembro, bem acima da expectativa dos analistas, de 0,1%.

O presidente do Fed disse que que o déficit comercial dos Estados Unidos é ¿uma preocupação¿ e reflete o desequilíbrio entre poupança e investimentos no país. Segundo ele, o déficit em conta corrente precisa continuar a diminuir gradualmente.

Sobre inflação, Bernanke comentou que o CPI superestima a inflação anual em até um ponto porcentual. ¿Acreditamos que o CPI superestime a inflação real - se pudéssemos medir a inflação real - em algo entre meio e um ponto porcentual¿, disse.

No mercado financeiro, o clima após o discurso de Bernanke foi de frustração. ¿As pessoas esperavam que ele fosse falar algo sobre a economia¿, disse Paul Note, da Hinsdale Associates.

Segundo ele, as bolsas de valores começaram a cair quando ficou claro para os investidores que o depoimento ficaria restrito a temas como o déficit comercial. ¿Começamos, então, a ver mais realização de lucro.¿ O Índice Dow Jones caiu 0,09% e a Nasdaq, 1,46%.