Título: Evo pede moderação a partidários
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2007, Internacional, p. A7

Em meio a uma onda de manifestações de sindicatos e movimentos sociais contra governadores oposicionistas, o governo do presidente boliviano, Evo Morales, passou o fim de semana tentando acalmar os aliados e evitar que a greve geral de 24 horas marcada para hoje em El Alto, uma das mais pobres e populosas cidades do país, tire o brilho da festa do primeiro aniversário da posse de Evo, na Praça São Francisco de La Paz, no centro da capital.

O vice-presidente Álvaro García Linera foi uma das muitas autoridades que tentaram negociar uma trégua com líderes de entidades que apóiam o governo.

Em rápida conversa ontem com o Estado, Linera sugeriu que o próprio governo não sabe se os aliados vão para a festa ou para a greve. ¿Amanhã (hoje) será um dia de muitas comemorações pelo primeiro ano do governo, mas também de protestos, das duas coisas¿, reconheceu Linera, ao sair do Congresso, onde passou a manhã. O temor do governo é perder o controle dos movimentos sociais, avaliam especialistas. Foi por isso que Evo teria orientado ministros e assessores para mudar o discurso e negar propostas de centralização de poder.

O comportamento dos movimentos sociais hoje é uma incógnita. A Fejuve, a federação de associações de moradores de El Alto, mais influente entidade social do Departamento de La Paz, foi procurada no fim de semana, segundo jornais bolivianos, pelo vice-ministro de Coordenação de Movimentos Sociais, Alfredo Rada.

Evo considera ruim para o governo que se repita em La Paz o que ocorreu na semana passada em Cochabamba, cidade onde manifestantes tomaram o palácio do governador Manfred Reyes Villa e instalaram por 24 horas um governo paralelo e ¿revolucionário¿.

Tanto Reys Villa quanto José Luis Paredes, governador de La Paz, defendem maior autonomia em relação ao governo central. Paredes e Villa acusam o presidente de incentivar os protestos. Autoridades do governo Evo, agora, têm feito recomendações para que os movimentos sociais não forcem a saída dos dois governadores.

Mesmo com os pedidos de trégua do governo, o clima político em El Alto é de tensão. Na semana passada, o líder da Fejuve e aliado de Evo, Nazario Ramírez, chegou a ensaiar um recuo nos protestos. Uma assembléia que reuniu mais de 300 delegados de distritos de El Alto, no entanto, decidiu levar a greve adiante.

Motoristas de ônibus e vans de El Alto informaram à Fejuve que não aderirão ao movimento. Mas ontem, os líderes da entidade estavam avaliando quais vias seriam bloqueadas e se era possível realizar uma marcha até o centro de La Paz, a uma distância de 12 quilômetros.