Título: Projeto é inspirado em graduação para sem-terra
Autor: Westin, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2007, Vida&, p. A12
O programa do MEC de incentivo à criação de cursos de formação de professores rurais tem como base uma experiência ainda em curso da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Há três anos, a federal mineira foi procurada por organizações camponesas, como o Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Via Campesina, pedindo apoio no treinamento dos professores dos assentamentos do Estado. O curso de graduação - exclusivo para assentados - surgiu no ano seguinte. ¿As universidades são latifúndio, e nossa presença aqui é uma ocupação¿, discursou Armando Vieira, líder do MST em Minas, na aula inaugural, em 2005.
Foram admitidos 60 alunos-professores de todo o Estado. Eles vão duas vezes por ano a Belo Horizonte, para as aulas presenciais. Em cada período, ficam hospedados durante um mês num sítio alugado, perto da UFMG. As despesas com hospedagem, transporte e alimentação são pagas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No resto do ano, como parte do curso, realizam atividades em casa e em suas escolas. A graduação dura cinco anos. ¿Estou crescendo muito com esse curso¿, conta Maurina Martins, que dá aulas para uma turma de 23 alunos da pré-escola e da 1ª série na escola estadual de um assentamento do MST em Governador Valadares. ¿Aprendi, por exemplo, a cobrar o que é nosso de direito. Não aceito mais quando nos mandam os livros que sobraram, o resto. Somos uma escola como qualquer outra.¿
Maurina começou a dar aula na zona rural logo depois de concluir o magistério. Casou-se com um sem-terra e passou a viver no assentamento. Seu sonho sempre foi freqüentar uma universidade, algo distante de sua realidade. ¿Ninguém é pior que ninguém. O campo não é pior que a cidade. A oportunidade é que não é igual para todos. Finalmente estou tendo minha oportunidade.¿
Apoiada pelo MEC, a universidade abre neste ano outro curso para professor rural.