Título: EUA e Europa estão próximos de acordo que abre portas ao Brasil
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/01/2007, Economia, p. B9

Negociadores dos Estados Unidos e da União Européia estão próximos de um acordo que poderia reiniciar o diálogo internacional sobre o setor agrícola, que há tempos não apresentava evolução. Segundo o jornal londrino Financial Times, as mudanças poderiam ocorrer após a realização, no último fim de semana, de uma reunião entre o primeiro escalão de negociadores de Washington e de Bruxelas, visando ao encontro do Fórum Econômico Mundial nesta semana, em Davos, na Suíça.

O jornal relembra que qualquer acordo dependeria também de concessões recíprocas do Brasil e da Índia em reduzir suas barreiras para a negociação de produtos industrializados e serviços - o que ainda está em negociação.

Um acordo entre os dois maiores blocos comerciais do mundo - Estados Unidos e União Européia - incluiria concessões politicamente polêmicas, que já estão causando protestos na Europa e alarmando lobistas agrícolas americanos.

O acordo discutido a portas fechadas, segundo o jornal londrino, incluiria uma proposta de Bruxelas de cortar barreiras para produtos agrícolas estrangeiros em 54%, em média. Por outro lado, os EUA reduziriam o teto de seus subsídios domésticos para perto de US$ 17 bilhões.

Essa tentativa representaria um avanço significativo nas discussões que impediram negociações mais amplas durante anos. Pessoas ligadas às negociações teriam afirmado que ambas as partes até chegaram a estudar cortes maiores em tarifas e subsídios, mas foram recusados. Um dos representantes teria dito: ¿Estamos tentando chegar ao limite máximo aceitável politicamente, sem cair em um abismo¿.

Os dois lados também sabem que a oferta provisória da União Européia para corte de tarifas pode ser derrubada pela oposição de Paris, que exige que as negociações agrícolas de Doha sejam incluídas na reunião de hoje dos ministros da Agricultura da UE.

O clima político hostil para tratar do assunto fez com que Bruxelas buscasse o apoio da chanceler alemã Angela Merkel. Apesar de a Alemanha tradicionalmente fazer o papel de país que convence a França a aceitar acordos econômicos, suas relações com a França estão enfraquecidas. Provavelmente, enquanto a Alemanha fará todos os esforços para facilitar um acordo, a França trabalhará no sentido oposto.

O governo Bush também está se reunindo com líderes do Congresso americano que moldarão a política agrícola e comercial sob a nova maioria democrata. Mas provavelmente levará semanas para saber se o Congresso vai considerar a renovação da autoridade de promoção comercial do presidente - que expira daqui a seis meses e é necessária para a conclusão de um acordo.

Essas abordagens incluíram um apelo a Collin Peterson, o influente presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Estados Unidos, para que modere sua oposição à renovação da autoridade de promoção comercial.

Depois da reunião, o parlamentar afirmou que continua questionando profundamente a política comercial dos Estados Unidos, mas não está decidido a frustrar um acordo em Doha que inclua benefícios significativos para os agricultores americanos.

POSIÇÃO BRASILEIRA

O Brasil negocia separadamente com os Estados Unidos e com a União Européia, e enviou a Nova Délhi o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Roberto Azevêdo, para tentar chegar a uma posição comum entre as partes para as conversas planejadas para Davos.

Hoje e amanhã, Azevêdo prosseguirá com a ¿exploração de alternativas¿, o mesmo trabalho que vem realizando com negociadores americanos e europeus. Mas, também nesse caso, sua missão é mais árdua - buscar um possível acerto dentro do G-20 sobre uma abertura maior do mercado agrícola dos países em desenvolvimento.

Na semana passada, em Genebra, a representante dos Estados Unidos para o Comércio, Susan Schwab, afirmou que a proposta do G-20 de liberalização do mercado agrícola nos países em desenvolvimento tornou-se o ponto crítico para a retomada da Rodada Doha, suspensa desde julho de 2006. Desde então, os Estados Unidos apenas deram sinais de que podem oferecer um corte maior nos subsídios agrícolas - a questão que, de fato, destravaria a negociação.

Washington atrela esse movimento a uma abertura maior do mercado europeu e também a um recuo do subgrupo do G-20 de tendência mais protecionista, liderado pela Índia. Esse subgrupo quer manter 20% da pauta de importação agrícola totalmente protegida. Trata-se de uma posição que contraria a facção liderada pelo Brasil, formada por exportadores agrícolas.