Título: Governo teme ação de milícias no campo
Autor: Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2007, Nacional, p. A13
A temperatura voltou a subir na zona rural e já preocupa as autoridades e as lideranças dos movimentos sociais. No espaço de duas semanas, entre os dias 3 e 16 deste mês, eclodiram em diferentes pontos do País três conflitos com a participação de homens armados e ligados a milícias particulares. Um deles, no Mato Grosso do Sul, terminou com a morte de uma índia.
'Se não houver uma pronta reação das autoridades, esse tipo de ação vai se espalhar', prevê diz o coordenador do Movimento dos Sem-Terra (MST), no Paraná, José Damasceno. 'Estamos preocupados com a disseminação do uso de armas ilegais entre esses grupos', confirma a secretária de Justiça e Direitos Humanos do Pará, Socorro Gomes.
O Pará foi o primeiro Estado a registrar neste mês a ação de milícias. No dia 3, um grupo de sem-terra ligado ao MST e à Comissão Pastoral da Terra foi recebido a bala quando tentava invadir a Fazenda São Felipe, no município de Irituia. A governadora Ana Julia Carepa (PT), despachou o comandante da Polícia Militar e dois secretários de Estado para cidade, preocupada com as denúncias feitas pela CPT de que policiais militares e civis integravam a milícia particular.
'A solução de conflitos pela terra não cabe à polícia mas à Justiça. Se for confirmada a presença de policiais naquela operação, quando os trabalhadores foram humilhados e tiveram seus pertences queimados, eles serão punidos', diz a secretária de Justiça e Direitos Humanos do Estado, Socorro Gomes. 'A governadora quer sobretudo promover o desarmamento no Estado.'
Passados seis dias, no Mato Grosso do Sul, um grupo de índios caiovás foi expulso a bala da Fazenda Madama, no município de Amambai. Eles estavam acampados havia cinco dias na propriedade, que reivindicam como terra indígena, quando um grupo de quase 40 homens armados irrompeu no local para expulsá-los. Na confusão, uma índia de 70 anos foi baleado e morreu no local.
O Mato Grosso do Sul é um dos Estados com maior tendência de agravamento das tensões, devido ao aumento das ações de grupos indígenas e de sem-terra. 'A pressão sobre os produtores rurais é cada vez maior', diz o presidente do Movimento Nacional dos Produtores, João Bosco Leal. 'Se eles não fossem tão pacientes como são, conflitos mais graves já teriam explodido nessas regiões.'
Nesta semana, na terça-feria, os sem-terra denunciaram a ação de outra milícia particular, desta vez no Paraná, na Fazenda 3J, do deputado federal José Janene (PP-PR). O grupo armado, com quase 30 pessoas, expulsou as famílias do MST que ocupavam a propriedade desde setembro e queimaram seus pertences.
A ação da milícia surpreendeu o MST. 'Esse tipo de violência tinha sido coibida no primeiro mandato de Roberto Requião', diz o coordenador José Damasceno. 'Agora estamos voltando a ouvir ameaças de jagunços.'