Título: Chávez confirma ofensiva contra TV
Autor: Marin, Denise Chrispim e Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 20/01/2007, Internacional, p. A16
Com o mais longo discurso dos chefes de Estado que participaram da Cúpula do Mercosul, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, transformou ontem o encontro em palanque para defender decisões polêmicas de seu governo, como a não-renovação da concessão (de televisão) da RCTV e a nacionalização da CANTV, empresa de telecomunicações. 'Não voltarei atrás nessa decisão (de não renovar a permissão da RCTV) nem que se movam os céus e a terra' , bradou o presidente, na reunião, realizada no Copacabana Palace. Para defender a nacionalização - expressão que não utilizou, preferindo 'recuperação da propriedade nacional'- da CANTV, acusou-a de ter 'grampeado' linhas telefônicas que utilizava, para favorecer o governo dos EUA, seu inimigo.
'TOM E JERRY'
Chávez disse que seu governo decidiu não renovar a concessão para o canal de TV porque, afirmou, ele servia aos interesses da oligarquia. Ele argumentou que o canal preferia transmitir os desenhos de Tom e Jerry na época em que seu governo enfrentava um golpe de Estado, em 2002.
Chávez reiterou que o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, 'cometeu um erro' ao criticar essa decisão de seu governo. Em defesa da nacionalização da CANTV, Chávez disse que o setor de telecomunicações é estratégico para seu país e está em mãos do capital do 'império' - sua maneira habitual de referir-se aos EUA.
'Acabo de anunciar a recuperação da propriedade estatal das telefônicas venezuelanas. Estavam nas mãos de quem? Dos capitais americanos, que usaram as telefônicas venezuelanas para grampear o presidente da república', afirmou, enfaticamente. 'O império, irmãos! Em 20 anos que este setor esteve privatizado, nunca cumpriram as cláusulas sociais. Eliminaram os orelhões, que era o que usávamos os pobres', completou Chávez.
A CANTV, que atua também no setor de telefonia do país, foi privatizada em 1991 e passou para o controle de um consórcio de empresas americanas e espanholas.
Mas o líder venezuelano deixou claro que sua sensação de perseguição vem de longo tempo. Disse que, quando era capitão do Exército, andava com uma carteira cheia de moedas. 'Eu parava em qualquer orelhão para evitar as interceptações telefônicas', afirmou.
Mais tarde, em entrevista, Chávez classificou de 'puro lixo' as acusações que tem sofrido, por tentar obter poderes excepcionais da Assembléia Nacional para governar, sem precisar consultar o legislativo, por 18 meses (projeto nesse sentido foi aprovado quinta-feira, em primeira votação). Ele afirmou que a Venezuela 'é uma democracia plena' e lembrou que o ex-vice-presidente da Argentina Carlos 'Chacho' Álvarez, que atuou como observador nas eleições venezuelanas, em pronunciamento na cúpula, afirmou que esteve no país e viu que há na Venezuela uma 'democracia verdadeira'.
'Agora, o lixo da oposição venezuelana, o lixo da oligarquia crioula (nativa) e do império norte-americano é que lança (as acusações) para confundir vocês (os jornalistas)', declarou, no Hotel Rio Othon Palace, após a cúpula.
'Mas sabem que os povos são sábios, os povos não se confundem, os povos sabem. Os povos deste continente e de outros continentes... Sabem a verdade, apesar de tanto lixo midiático. Sabem que na Venezuela há uma revolução profunda e uma revolução democrática. Ficam jogando lixo, mas fracassarão', afirmou.
Chávez acusou os opositores de inventarem acusações para atingi-lo. 'O que inventam... 'Vamos dizer que Chávez é um tirano, não respeita as liberdades, que atropela os jornalistas, que atropela o povo venezuelano, que tem um ranço monárquico, autoritário e tirânico...' Bem, fracassam. Porque a verdade prevalece.'