Título: Sucessão distancia tucanos e pefelistas na Câmara
Autor: Domingos, João e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2007, Nacional, p. A6

Principais partidos de oposição, PSDB e PFL estão se afastando cada vez mais. As trombadas políticas ocorridas recentemente apenas aceleraram esse processo de distanciamento. A disputa pela presidência da Câmara é o melhor exemplo.

Para tentar impedir a vitória do petista Arlindo Chinaglia (SP), o PFL apoiou a reeleição de Aldo Rebelo (PC do B-SP), apostando que ele pode abrir mais espaço para a oposição. Para surpresa do PFL, o líder do PSDB, Jutahy Júnior (BA), declarou apoio a Chinaglia. Em troca, receberia ajuda do PT para eleger os presidentes de Assembléias Legislativas em São Paulo, Minas Gerais e Bahia.

O acordo teve péssima repercussão, até no próprio PSDB. Com o lançamento da candidatura alternativa de Gustavo Fruet (PSDB-PR) pelo grupo de deputados que buscava um nome de terceira via, não ligado ao Palácio do Planalto, os tucanos se viram obrigados a rever sua posição e retirar o apoio a Chinaglia. Mesmo assim, a aliança PFL-PSDB não se refez, pois os pefelistas mantiveram a disposição de votar em Aldo.

'O apoio anunciado do PSDB a Chinaglia foi uma surpresa. Porque só me engajei na campanha de Aldo quando houve sinalização do PSDB de que eles viriam com o PFL', comenta Rodrigo Maia, líder do PFL na Câmara. 'Votar em Chinaglia seria um grave erro do PSDB.'

No fim do ano, outro episódio do afastamento entre os dois partidos aconteceu no Rio Grande do Sul. Eleito vice-governador na chapa encabeçada pela tucana Yeda Crusius, o pefelista Paulo Feijó surpreendeu ao assumir posição pública contra o pacote de medidas apresentado pela governadora à Assembléia Legislativa antes mesmo da posse. O pacote, apelidado de tarifaço, foi derrubado - o que estraçalhou as relações de Yeda com Feijó. Ela passou a tratar o PFL como adversário, criando a inusitada situação de ter um vice de oposição.

'O PFL não poderia ter votado a favor de aumento de impostos. É sua linha nacional. Mas não precisava ter dado tanta visibilidade a seu voto', diz o prefeito do Rio, César Maia, uma das estrelas pefelistas. Mas ele também contribuiu para acirrar a divergência com o PSDB, ao comentar que poderia emprestar recursos do Rio para o governo gaúcho. A proposta, que nunca foi oficializada, recebeu farpas e ironias de Yeda.

O desentendimento entre os dois partidos na Câmara não se repete no Senado. O PSDB já anunciou que apóia Agripino Maia (PFL-RN) na disputa pela presidência da Casa. É a única bancada a aderir ao pefelista, que tem poucas chances de vitória na disputa contra o favorito, o atual presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Rodrigo Maia admite que há um afastamento, mas acha que os dois partidos ainda vão operar juntos na votação de propostas do governo que contrariem a oposição: 'Eles terão 66 deputados na nova legislatura e nós teremos 65. São duas bancadas praticamente iguais. Mas é sempre melhor e mais eficaz ter 131 votos juntos. Por isso, acho que vamos continuar trabalhando em parceria no Congresso.'

RESISTÊNCIA

Quando foi formada nacionalmente, em 1994, a parceria entre os dois partidos foi motivo de crítica entre parcela dos tucanos - que considerava os pefelistas excessivamente conservadores e criticava a identificação de vários de seu integrantes com os governos da ditadura.

Fernando Henrique Cardoso defendeu a aliança e conseguiu eleger-se presidente, tendo Marco Maciel (PFL-PE) como vice. Com o passar do tempo e a reeleição da chapa PSDB-PFL, a resistência desapareceu.