Título: Radiobrás lança manual e defende autonomia
Autor: Mantano Filho, Gabriel
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2007, Nacional, p. A11

Do alto de suas 11 empresas, em que trabalham 1.160 funcionários, a Radiobrás chega aos seus 31 anos de vida lançando um Manual de Jornalismo. São 250 páginas de conceitos e dicas práticas com os quais ela quer mostrar que 'abriu mão do entretenimento (...) e passou a servir o cidadão brasileiro, não mais o governo ou quaisquer outros interesses', como diz o texto de apresentação.

Em quatro grandes capítulos, o livro trata questões de jornalismo, de ética - onde critica todos os maus hábitos que sempre marcaram a imprensa oficial - e traz 398 verbetes com dicas de trabalho. A gráfica do Senado ajudou o projeto, imprimindo 2.000 exemplares em papel couchê, produzindo um livro chique, caro e pesado.

Chama a atenção, no manual, o empenho do presidente da empresa, o jornalista Eugênio Bucci, em separar duas coisas - a comunicação estatal, que é pura e simples divulgação de atos oficiais, missão específica do canal NBr, por exemplo, da tarefa de informar corretamente o cidadão, a que se dedicam outras duas emissoras de TV, seis de rádio e duas agências de notícias. Só a Agência Brasil produziu, em 2005, cerca de 32 mil reportagens.

Chama a atenção, também, a diferença que Bucci estabelece entre o que fez no cargo, desde 2003, e o estado em que estava a Radiobrás nos tempos do governo FHC. Ele reconhece que seu antecessor 'conseguiu sanear as contas da instituição, além de criar a NBr e a Agência Brasil', mas não se havia libertado ainda 'do jugo do jargão oficialesco - que, no limite, é apenas um meio de desinformar a sociedade.'

Embora a comemoração de Bucci seja justa, pois o nível jornalístico do grupo Radiobrás tem sido aplaudido por toda parte, a frase não combina com os elogios que ele fez, em recente entrevista à revista Imprensa, ao seu antecessor Carlos Zarur, que 'realizou um importante esforço de profissionalização da Radiobrás' e que nas eleições de 2002 fez 'uma boa cobertura, com uma clara preocupação de apartidarismo'. Zarur, que reconhece o trabalho de Bucci, lembra que a evolução da comunicação pública 'é uma história construída aos poucos', por muitas diretorias. 'Eu tive meu momento, ele está tendo o dele e torço para que seu sucessor vá ainda mais longe', afirmou.