Título: O setor têxtil vai bem até a porta da fábrica
Autor: Diniz Filho, Aguinaldo
Fonte: O Estado de São Paulo, 21/01/2007, Economia, p. B4

O setor têxtil, embora seja competitivo e tenha investido US$ 10 bilhões nos últimos 10 anos, vive uma série de dificuldades e precisa de ajustes. Não sabemos ainda a extensão das medidas a serem anunciadas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas, sem dúvida, uma das nossas grandes expectativas é a redução da carga tributária. A indústria têxtil brasileira vai muito bem até o portão da fábrica, mas a carga tributária, os juros e o dólar formam um trinômio que tira a competitividade do setor.

Na questão tributária, uma das medida esperadas é a desoneração do custo da mão-de-obra, principalmente da confecção. O setor têxtil é o segundo empregador na indústria de transformação. Geramos 45% dos empregos. A redução de encargos com mão-de-obra vai estimular a formalização das empresas e do emprego.

O problema do câmbio nos afeta de três maneiras: dificulta e tira a rentabilidade da exportação, facilita a entrada de produtos mais baratos, inclusive os da China e, uma vez que a exportação diminui, há um aumento da oferta no mercado interno de produtos e queda de preços.

O setor precisa de acordos bilaterais para que possamos ter a mesma competitividade com nossos concorrentes externos.No ano passado tivemos três audiências com o presidente Lula e com os ministros Mantega e Furlan e levantamos a questão. Se houvesse um acordo bilateral com os Estados Unidos e os países da comunidade européia, poderíamos obter, em menos de três anos, 1,5 milhão de empregos diretos.

Nenhum setor do País tem essa condição. O acordo bilateral foi pedido ao governo por escrito. Existem no mundo 320 acordos bilaterais. O Brasil só tem um com o México, de automóveis. O Uruguai está para assinar um com os EUA e terá acesso preferencial para o mercado americano.

Nossos tecidos e produtos confeccionados para entrarem nos EUA pagam de 11% a 30% de alíquota de importação e nossos concorrentes, principalmente países da Ásia e América Central, que têm acesso preferencial de mercado,via acordo bilateral, não pagam nada. Temos ainda a supervalorização do real. Nos últimos dois anos foi a moeda que mais se valorizou nos países emergentes. Portanto, a competitividade do produto brasileiro vai para o espaço e vamos continuar criando empregos em outros países.

Não podemos conviver com uma carga tributária que representa 38% do PIB, mais 3% de déficit nominal. Não podemos admitir, como empresários, que o governo se autofinancie com 41% do PIB. Precisamos de políticas de fortalecimento do setor, como o combate à sonegação, ao contrabando, à informalidade e facilitação e crédito para as exportações.