Título: Fazenda em Goiás é invadida pela terceira vez
Autor: Macedo, Fausto e Arruda, Roldão
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2007, Nacional, p. A8
Cerca de 600 famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST)invadiram a Fazenda Ilha Bela, no município de Flores de Goiás, a 100 quilômetros da divisa de Goiás com a Bahia. A invasão, a terceira em pouco mais de um ano, ocorreu na madrugada de sábado. O MST alega que a propriedade, de 3, 7 mil hectares, é improdutiva e está abandonada.
Ontem à tarde, Luciano Monteiro, de 32 anos, coordenador do MST no Distrito Federal e Entorno (Goiás, Minas e Distrito Federal), afirmou que as famílias não pretendem desocupar a área nem mesmo diante do risco de um confronto com a tropa de choque da polícia. Eles se alojaram em um galpão com 4 mil sacas de arroz. Pelo menos 40 crianças, a maioria de colo, estão com os sem-terra. Mais que uma eventual blitz policial, as famílias dizem temer uma tocaia de pistoleiros e jagunços.
A Polícia Militar informou que só enviará suas tropas à fazenda se a Justiça decretar a desocupação. O tenente-coronel Abigail Alves Silva, comandante do 16º Batalhão da PM, disse que os invasores expulsaram 5 funcionários da fazenda e ¿ocuparam posição¿. Os sem-terra chegaram em dez ônibus fretados, pela rodovia BR 020, sentido Brasília-Bahia e, segundo o militar, sacrificaram suínos e gado para se alimentarem. ¿Não temos armas para matar¿, afirmou Monteiro. ¿Nossas armas são apenas nossos instrumentos de trabalho, facões e foices. Não matamos nenhum animal.¿
A Ilha Bela pertence a Carmo Pádua Vilela, de 84 anos. Segundo o MST, ele teria tentado subornar funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para forjarem laudos de vistoria atestando produtividade da área e supervalorização da casa-sede.
¿É inverídico¿, rechaçou Carla Andrade Chaves Cruz, advogada de Vilela, que às 16 horas ingressou no Fórum de Formosa (jurisdição sobre Flores de Goiás) com pedido liminar de reintegração de posse. O caso está sendo examinado pelo juiz Willian Fabian.
Além da desapropriação da fazenda para assentamento, as famílias exigem do governo o cumprimento de acordos em relação à pauta de negociação que vem sendo discutida há mais de três anos com o Incra. ¿Os quatro anos de governo Lula foram uma porcaria¿, acusou Monteiro. ¿É luta inglória. Não dá para passar mais quatro anos sem conquistas. A disposição da companheirada é não sair daqui enquanto o governo não der um sinal. O Incra não tomou nenhuma atitude para o avanço da reforma agrária na região.¿
Por meio de sua assessoria, o superintendente do Incra do DF Entorno, Renato Lordello, informou que a Ilha Bela ¿já foi objeto de vistoria em novembro de 2003 e o aferimento da produtividade foi de praticamente 100%¿. Segundo o Incra, será necessária nova avaliação. ¿É preciso que a área esteja desocupada para que os agrônomos possam finalizar o laudo.¿