Título: Principal relatório sobre aquecimento culpa ação humana
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 24/01/2007, Vida&, p. A15

A dez dias da divulgação oficial, começam a vazar detalhes do próximo relatório do principal grupo científico sobre mudanças climáticas, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). O documento ainda sofrerá algumas alterações até sua liberação, no dia 2 de fevereiro, em Paris. Mas uma informação é inequívoca: a culpa pelo aquecimento global é do homem.

A forma como isso será dito é que pode mudar de forma substantiva, ainda que sutil. Os cientistas envolvidos na formulação do relatório ainda se reúnem para debater edições no texto, recomendadas por burocratas de 154 governos.

A primeira fase do relatório, redigido por mais de 600 cientistas e revisado por outros 600, incluirá ¿uma discussão significativamente expandida da observação do clima¿, disse uma das responsáveis pela organização do trabalho, Susan Solomon, da Administração Nacional de Oceano e Atmosfera (NOAA) dos Estados Unidos.

O relatório trará ¿uma explosão de novos dados¿ sobre as observações do aquecimento global atual, disse Solomon, sem entrar em detalhes. Ele será divulgado em quatro etapas ao longo do ano, como ocorreu com o primeiro trabalho do IPCC, divulgado em 2001.

Um deles vem de outro órgão das Nações Unidas, a Organização Mundial de Meteorologia, que recentemente divulgou dados alarmantes. A temperatura média mundial aumentou 0,6°C desde 1900 e os dez anos mais quentes desde 1850 foram registrados entre 1994 e 2006.

Além disso, o mundo esquentou cerca de 5°C desde a última Era do Gelo. E a capa de gelo que cobre a Groenlândia exibe uma diminuição acelerada nos últimos anos.

Em novembro, o chefe do IPCC, Rajendra K. Pachauri, disse apenas que o texto terá ¿evidências muito mais fortes de ação humana na mudança climática que vem ocorrendo¿. Um rascunho do relatório afirmava que ¿um corpo de evidência cada vez maior sugere uma influência humana perceptível em outros aspectos do clima, como gelo marítimo, ondas de calor e outros eventos extremos, circulação, tempestades e precipitação¿.

As informações que têm vazado realmente indicam que o grau de incerteza dos cientistas diminuiu bastante (leia o quadro acima).

CUIDADOS

Apesar da qualidade do relatório ter aumentado, os autores criticam o anúncio precoce. Segundo eles, isso pode levar a interpretações errôneas. ¿A linguagem está longe de ser a final¿, diz Kevin E. Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos Estados Unidos, principal autor de um dos capítulos do relatório. ¿Não se pode dizer o que o IPCC fala até ele realmente falar.¿

Jerry Mahlman, pesquisador emérito do mesmo centro e revisor das 1.644 páginas do documento, diz que o vazamento de informações é feito por pessoas que buscam elementos para aumentar o medo e a apreensão da população.