Título: Suíça financia trabalho de ONGs com o MST
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2007, Nacional, p. A10

Recursos oficiais do governo suíço estão servindo para financiar atividades e programas do Movimento dos Sem-Terra (MST). O governo suíço e funcionários de entidades estrangeiras envolvidas em projetos com o MST confirmaram ao Estado que parte dos recursos de organizações não-governamentais da Suíça em acordos com o MST vem dos cofres do governo de Berna. A Suíça afirma que está consciente de ¿alguns comportamentos irregulares do Movimento dos Sem-Terra¿, mas não apóia seus ¿atos ilegais¿ .

No poderoso Departamento de Cooperação e Desenvolvimento do governo suíço (conhecido pela sigla DDC), diplomatas de alto escalão confirmaram que existem ONGs financiadas pelo Estado que atuam em projetos com o MST. Uma delas seria a E-Changer, que envia suíços para ajudar o movimento em questões como saúde, informática, reforço institucional e agricultura.

¿Posso confirmar que a DDC financia uma parte do programa da ONG suíça E-Changer, que envia voluntários a organizações da sociedade civil brasileira, eltre elas o MST¿, afirmou Beata Godenzi, encarregada do Programa de Cooperação Bilateral e ONGs no governo suíço.

O embaixador do Brasil na Suíça, Eduardo Santos, admitiu que ¿desconhecia¿ o uso de recursos do governo suíço em organizações não-governamentais que atuam em projetos com o MST e não escondeu surpresa diante da notícia. Santos está organizando a vinda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Suíça nesta semana para participar do Fórum Econômico de Davos.

A participação do governo suíço no financiamento de projetos com o MST, segundo Berna, faria parte da lógica da luta contra a desigualdade. Uma dessas ONGs teria recebido quase R$ 1 milhão entre 2005 e 2008 para atuar no País. A beneficiada - a E-Changer - tem sua base na cidade suíça de Friburgo e há 40 anos envia voluntários a várias partes do mundo para ajudar em programas sociais. Um dos projetos inclui enviar voluntários para colaborar com o MST.

A entidade conta com um representante no Rio Grande do Sul que há um ano auxilia o MST na área agrícola. 76,3 mil francos suíços (R$ 130 mil) são destinados anualmente pelo governo à ONG para mantê-lo até 2008. O recurso equivale a 75% de seus gastos e pagaria também pela ajuda na produção de arroz entre os membros do movimento que já contam com terras. ¿O governo suíço é muito exigente em saber como os recursos são usados, principalmente em uma situação política delicada¿, afirmou Nathaniel Schmitt, agrônomo de 36 anos que está em Guaíba (RS). ¿O MST não recebe o dinheiro diretamente. Só nossa ajuda no trabalho.¿

Outra voluntária, enviada a Salvador (BA) com o objetivo de promover um ¿reforço institucional¿, receberá 40,3 mil francos suíços (R$ 69 mil) por ano do governo suíço para seus projetos. Entre suas atividades explicadas no website da E-Changer está a mobilização de mulheres e a produção de materiais didáticos.

Um voluntário em São Paulo receberia 35 mil francos (R$ 60 mil) para se manter e conduzir programas no setor de saúde.

Berna faz questão de enfatizar que o envolvimento não reflete apoio às invasões promovidas pelo MST. ¿Todas nossas atividades estão baseadas no quadro da legalidade. Nunca apoiamos atos ilegais. Não é porque MST promove algum ato ilegal que nossa participação significa que estamos apoiando¿, garantiu Beata Godenzi.