Título: Após discurso, Senado repudia Bush
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Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2007, Internacional, p. A12

Num incomum repúdio a um presidente em tempos de guerra e numa clara demonstração de que os apelos por unidade de George W. Bush - feitos na véspera no discurso sobre o Estado da União -, a Comissão de Relações Exteriores do Senado declarou a decisão da Casa Branca de enviar mais soldados ao Iraque como ¿contrária aos interesses nacionais¿. A comissão é dominada pela oposição democrata, mas a moção, aprovada por 12 votos a favor e 9 contra, contou com o apoio do senador republicano Chuck Hagel.

Embora o Congresso não tenha competência para impedir que o Executivo envie mais soldados para a guerra, a resolução indica claramente que o discurso de Bush não seduziu nem os democratas e - num sinal ainda mais preocupante para a Casa Branca - nem alguns republicanos que passaram a questionar com mais veemência a estratégia americana para a guerra.

¿Valeria mais se soubéssemos o que estamos fazendo, antes de enviar outros 22 mil cidadãos americanos para essa trituradora (a guerra no Iraque)¿, declarou Hagel, veterano da Guerra do Vietnã.

¿Não estou seguro de que o plano de Bush vá ter êxito¿, declarou outro senador republicano, Richard Lugar. ¿Mas essa votação não poderá forçar o presidente a nada, apenas confirmará a nossos amigos e aliados que estamos divididos e em confusão¿, acrescentou Lugar, para justificar sua decisão de não dar seu apoio à moção.

No discurso de terça-feira, ante um Congresso desafiante, Bush insistiu na necessidade de ampliar o número de soldados no Iraque, sob a alegação de que uma derrota no país do Golfo Pérsico teria ¿conseqüências graves e de longo alcance¿ para os interesses dos EUA. ¿Nosso país está comprometido com uma nova estratégia no Iraque e peço que dêem aos soldados a oportunidade de fazer com que ela funcione¿, discursou Bush.

Antes da votação no Senado, o vice-presidente Dick Cheney confirmou que, qualquer que fosse a decisão da comissão, o plano de enviar mais tropas para o Iraque irá adiante. ¿Isso não nos deterá. O Congresso maneja o cofre e, certamente, os congressistas têm o direito, se quiserem, de cortar os fundos. Mas a decisão (sobre o envio de mais soldados) já foi tomada pelo presidente¿, disse Cheney.

Longe da perspectiva de consenso e castigado por baixos índices de popularidade - comparáveis aos de Richard Nixon, forçado a renunciar em 1974 por causa do escândalo de Watergate -, Bush fez um discurso no qual tentou contrapor os resultados no Iraque a propostas voltadas a satisfazer grupos de ambientalistas e imigrantes. Ele apresentou propostas para reduzir em 20% o consumo de gasolina nos EUA nos próximos dez anos e voltou a acenar com um projeto de conceder vistos temporários de trabalho para imigrantes. Em todo o discurso, de cerca de 50 minutos, um apelo em favor da democracia em Cuba - além de Mianmá (ex-Birmânia) e Bielo-Rússia - foi a única menção feita por Bush à América Latina.

FORA DA DISPUTA

O senador democrata John Kerry, derrotado por Bush na eleição presidencial de 2004, anunciou ontem que não entrará na corrida para chegar à Casa Branca em 2008: ¿Não é hora de montar uma campanha presidencial, é hora de dedicar minha energia para fazer tudo que eu puder, como membro da maioria no Senado, para encerrar esta guerra (no Iraque).¿

FRASE

Chuck Hagel Senador republicano

¿Valeria mais se soubéssemos o que estamos fazendo, antes de enviar outros 22 mil cidadãos americanos para essa trituradora (a guerra no Iraque)¿

PROPOSTAS PARA 2007

Guerra ao terror: Aumentar o número de soldados do Exército e dos fuzileiros navais em 92 mil durante os próximos cinco anos

Energia: Reduzir consumo de gasolina em 20% até 2017 pelo aumento da produção interna de petróleo e uso de fontes de energia alternativas, como etanol, e melhora do desempenho dos combustíveis

Reformas: Estabilizar Orçamento Federal até 2012 sem aumento de impostos e ajudar 47 milhões de americanos a obter assistência à saúde com isenção fiscal

Imigração: Aumentar a segurança fronteiriça e criar programa de trabalho temporário para imigrantes