Título: Novos choques em Beirute matam 4
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Internacional, p. A10

Libaneses contra e a favor do governo pró-ocidental do primeiro-ministro Fuad Siniora voltaram a se enfrentar ontem nas ruas de Beirute, onde ao menos 4 pessoas morreram e 152 ficaram feridas. O conflito obrigou o Exército libanês a decretar toque de recolher na capital a partir das 20h30 e ofuscou os resultados de uma conferência realizada em Paris para arrecadar fundos para o Líbano - na qual diversos países e organizações prometeram a Siniora doações e empréstimos no total de US$7,62 bilhões para recuperar a economia libanesa e reconstruir a infra-estrutura arrasada nos bombardeios israelenses, no ano passado.

Os confrontos começaram na lanchonete do campus da Universidade Árabe de Beirute, no sul da cidade, e envolveram estudantes muçulmanos. Um grupo era formado por xiitas simpatizantes da oposição, encabeçada pelo grupo Hezbollah. O outro, por sunitas que apóiam o governo. Ativistas do Hezbollah eram vistos com walkie-talkies coordenando as ações, enquanto um comboio com reforços chegava ao campus. Os dois grupos se enfrentaram com bastões, pedras e pistolas e o conflito se espalhou para ruas próximas, onde pneus e carros foram queimados.

Segundo testemunhas, pessoas atiraram nos estudantes do alto de edifícios e uma multidão de xiitas atacou uma escola num bairro sunita. Os soldados chegaram ao local com veículos blindados e tiveram de dar tiros para o alto para dispersar a multidão, enquanto em outro bairro da capital o escritório de um partido opositor foi atacado.

Na terça-feira, uma greve geral organizada pela oposição para desestabilizar o governo de Siniora acabou em violência e deixou 3 mortos e mais de 100 feridos em todo o Líbano. Os novos choques podem ser um sinal de que a situação está saindo do controle das lideranças políticas libanesas.

No fim da tarde, o líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, emitiu uma fatwa (decreto islâmico) instruindo seus aliados a manter a calma e deixar as ruas. Em Paris, Siniora também pediu que todos os libaneses renunciassem à violência. ¿É preciso mostrar ao mundo que os libaneses querem construir uma nação e não um campo de batalha¿, disse o premiê.

Apesar de oficialmente os empréstimos e doações da comunidade internacional terem como finalidade reerguer o Líbano, a oposição alega que seu objetivo é fortalecer Siniora na disputa política com o Hezbollah e seus aliados - o movimento Amal, também xiita, e alguns grupos cristãos, como o partido do general Michel Aun. O governo de Siniora é apoiado por sunitas, cristãos e drusos e formado exclusivamente por representantes dessas parcelas da população desde novembro, quando os seis ministros ligados ao Hezbollah renunciaram. Na época, a oposição pedia mais duas cadeiras no gabinete, o que lhe daria poder de veto em todas as decisões, mas Siniora se recusou a cumprir a exigência.

As tensões entre as duas facções se intensificaram em dezembro, quando o Hezbollah lançou uma campanha para forçar Siniora a renunciar. Milhares de pessoas acamparam diante de prédios públicos, impedindo ministros de voltar para casa. A greve deveria ser pacífica. Já os choques de ontem foram uma manifestação de violência espontânea dos estudantes.