Título: Modernização abre novos vazios demográficos
Autor: Rodrigues, Karine e Werneck, Felipe
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Vida&, p. A13

A heterogeneidade na Amazônia Legal é tão acentuada, ao contrário do que diz o senso comum, que há diferenciação até mesmo entre territórios com baixa densidade demográfica, uma das características predominantes da região. Além dos povoamentos dispersos com pouca pressão sobre o ambiente natural, como as unidades de conservação e as terras indígenas, existem áreas onde a tensão se dá de forma imediata, em decorrência da expansão da fronteira agrícola.

Fenômeno recente, registrado em grande parte do centro-norte mato-grossense, o novo vazio demográfico ocorre em áreas ocupadas por lavouras de soja e de algodão, e é resultado de um processo de modernização do campo. A inovação tecnológica levou ao uso intensivo de máquinas e insumos, o que, por sua vez, provocou uma redução na absorção de mão-de-obra nas atividades rurais desenvolvidas, especialmente, nos grandes estabelecimentos agropecuários.

FIM DO MITO

¿O vazio da mecanização é mais acentuado do que o vazio da vida ribeirinha. Destrói-se, portanto, um mito¿, observa José Antônio Sena do Nascimento, da Diretoria de Geociências do IBGE, acrescentando que a população rural de Mato Grosso, Estado praticamente tomado por áreas dotadas de estrutura produtiva, é menor do que a do Amazonas.

Esvaziamento de um lado, aumento de outro. Segundo estimativas do IBGE, entre 2005 e o ano que vem, a Amazônia Legal vai ganhar mais 1,3 milhão de habitantes, chegando a 2008 com uma população de cerca de 25 milhões. No período, as maiores taxas de crescimento populacional devem ser registradas no Amapá (10,5%), e em Roraima (9,1%); as menores, no Maranhão e em Mato Grosso (veja gráfico ao lado).

NOVA POLÍTICA

O crescimento da população vai requerer uma melhoria acentuada na política de saneamento básico, pois os dados mais recentes do IBGE, de 2000, revelam que o esgotamento sanitário é ainda um privilégio nos Estados que constituem a Amazônia Legal. Em Rondônia, Tocantins e Amazonas, não chega a 2% o porcentual de pessoas que dispõem do serviço. Mato Grosso e Roraima têm os maiores índices da região, 12%, mas é uma situação ainda muito inferior à registrada na média do País, que é 40%.