Título: 'Entrevista atípica' para mostrar sintonia
Autor: Dantas, Fernando e Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Economia, p. B1

A inesperada entrevista à imprensa concedida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, foi antecedida por momentos de tensão, constrangimento e muita confusão.

Tudo começou durante o vôo do avião presidencial para a Suíça. Cerca de uma hora antes do pouso em Zurique, Lula convocou Mantega e Meirelles para discutir a decisão do Copom de reduzir o ritmo de cortes na Selic para 0,25 ponto percentual.

Segundo fontes do governo, Mantega, cuja posição era a favor de um corte de 0,50 ponto percentual, ouviu as explicações de Meirelles para a redução menor dos juros. O presidente do BC também reclamou das constantes críticas contra a política monetária desferidas por membros da ala desenvolvimentista do governo, da qual Mantega é um dos integrantes.

Temendo que o debate sobre o Copom ofuscasse, no noticiário, a sua participação no Fórum Econômico Mundial e preocupado com a repercussão política das declarações publicadas no blog do ex-ministro José Dirceu - que pediram a demissão de Meirelles -, Lula determinou que os dois deveriam dar uma forte demonstração de unidade em torno da política monetária em uma entrevista conjunta à imprensa em Davos.

Aí a confusão começou. Ao chegar ao hotel em que está hospedado em Davos, o Belvedere, Lula foi bombardeado por perguntas dos jornalistas sobre a decisão do Copom. Enquanto isso, Meirelles e Mantega aguardavam do lado de fora no hotel, dentro dos carros da comitiva, sem saber se deveriam acompanhar o presidente e encarar a imprensa ou se dirigir a seus respectivos hotéis, o que no final acabou acontecendo.

Meirelles, ao chegar ao Hotel Sunstar, informou ao Estado que, juntamente com Mantega, daria ¿mais tarde¿ uma entrevista ¿atípica¿ à imprensa. Foi interrompido por um telefonema do assessor da Presidência, André Singer, que o informou que Lula decidira que a entrevista teria de ser realizada imediatamente no Hotel Belvedere.

Surpreso, Meirelles informou que deixaria apenas as malas em seu quarto e retornaria em seguida ao Belvedere. Singer enviou uma van para apanhar Meirelles e Mantega.

Num ambiente descrito por uma fonte como ¿carregado¿, os dois levaram menos de dez minutos para chegar ao Belvedere. Ao entrarem no lobby e serem cercados pelos jornalistas, se armaram de sorrisos para a entrevista. Um integrante da comitiva presidencial descreveu a cena como ¿patética¿.

Encerrada a entrevista, Mantega e Meirelles retornaram para seus hotéis. Meirelles embarca para o Brasil hoje à noite, no avião presidencial.

Pelo menos no retorno, Meirelles não terá de compartilhar cerca de 15 horas de vôo com Mantega, que de Davos seguirá para Londres, onde na próxima semana manterá encontros com investidores, analistas do mercado financeiro e representantes do governo britânico.