Título: Lula cobra unidade da equipe e Mantega defende BC autônomo
Autor: Dantas, Fernando e Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Economia, p. B1

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem, em Davos, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de cortar em 0,25 ponto porcentual a taxa básica de juros (Selic) e afirmou que a autonomia do BC é o melhor sistema para o País.

¿O ministro da Fazenda não determina qual vai ser a taxa de juros, isso é muito claro, porque o Copom tem autonomia e assim funciona melhor¿, disse Mantega, ao chegar a Davos, onde se realiza o Fórum Econômico Mundial, numa entrevista conjunta com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Para o ministro, o crescimento provável em 2007 deve ser entre 4% e 4,5%.

O show de aparente unidade da equipe econômica foi , ao que tudo indica, determinação do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mantega e Meirelles deram entrevista na tarde de ontem, lado a lado, no hall de entrada do luxuoso Hotel Belvedere. A idéia era falar com a imprensa depois, mas os dois foram convocados para a entrevista por Lula, que, ao ser perguntado sobre a decisão do Copom, disse que o ministro da Fazenda e o presidente do BC falariam sobre o assunto ainda ontem (ver reportagem abaixo).

Em contraste com declarações passadas, em que muitas vezes deu a entender que preferiria uma política monetária menos ortodoxa e uma queda mais veloz dos juros, Mantega demonstrou apoio a Meirelles. ¿A redução dos juros ajuda o País, o que atrapalharia seria uma elevação.¿ Para ele, a Selic ¿caiu na medida adequada considerada pelo Copom¿.

Na cerimônia de lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na segunda-feira, o ministro fez uma provocação: ¿O mercado está esperando uma redução da Selic, viu, Meirelles?¿, disse Mantega, olhando para o presidente do BC, na platéia. Anteontem, antes da divulgação do resultado da reunião, Mantega já havia ensaiado um recuo, argumentando que era só ¿uma brincadeira, um comentário jocoso¿.

Ontem, o ministro observou que a missão do Copom é cumprir a meta de inflação, e disse que Meirelles e a diretoria do BC trabalham para isso. Segundo Mantega, os juros devem continuar a cair nos próximos meses, o que vai ajudar a cumprir os objetivos do PAC.

Mantega negou que tivesse feito pedidos públicos para que o BC reduzisse os juros, e indicou que as projeções de mercado apontam para uma queda da Selic até 10 pontos porcentuais nos próximos quatro anos, o que ele acha até conservador. O ministro reafirmou que a taxa ideal de crescimento é de 5%, e pode ser atingida em breve, já que o País reúne as condições para isso. Para 2007, Mantega prevê de 4% a 4,5%. Ele frisou, no entanto, que essa não é uma meta que pode ser estabelecida com precisão, e o mais importante é que está havendo uma aceleração, que será ampliada em 0,5 a 1,5 ponto porcentual pelos investimentos previstos e viabilizados pelo PAC.

Sobre o corte da Selic, o ministro afirmou que é preciso olhar as diferentes taxas de juros da economia. Para ele, a divisão no Copom (cinco votos a favor de corte de 0,25, e três pela redução de 0,5) é normal em bancos centrais. ¿Quem apresentou a proposta de 0,25 certamente tinha argumentos mais sólidos e acabou ganhando a discussão.¿ Ele disse também ¿imaginar¿ que a redução de apenas 0,25 ponto fosse uma estratégia para prolongar a queda da Selic ao longo do tempo. Meirelles, ao seu lado, explicou que esse objetivo de prolongar o ciclo de cortes foi explicitado no comunicado divulgado junto com a decisão do Copom.

O presidente do BC destacou que a relação com a Fazenda é ¿cordial, bem-humorada e em sintonia¿. Ecoando as palavras de Mantega, ele disse que cumprir a meta de inflação é a contribuição do BC para reforçar o PAC. ¿Cada um cumpre a sua parte¿, disse Meirelles, para quem o PAC vai acelerar o crescimento. Já o ministro frisou que os contatos entre Fazenda e BC são constantes e voltaram a ocorrer reuniões entre as duas diretorias. ¿Conversamos toda semana, o Meirelles almoça no ministério e nem paga¿, voltou a brincar Mantega.

ACERTO

Guido Mantega Ministro da Fazenda

¿Quem apresentou a proposta de queda de 0,25 certamente tinha argumentos mais sólidos e acabou ganhando a discussão¿

Henrique Meirelles Presidente do BC

¿A relação com a Fazenda é cordial, bem-humorada e em sintonia. Cada um cumpre a sua parte¿