Título: Conta corrente tem saldo 3,3% menor
Autor: Graner, Fabio e Freire, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Economia, p. B3

O volume recorde de remessas de lucros e dividendos ao exterior, que somaram US$ 16,35 bilhões no ano passado, foi determinante para a diminuição, em relação a 2005, do saldo da conta de transações correntes do balanço de pagamentos, que registra todas as operações comerciais, de serviços e rendas do Brasil com o exterior. De acordo com o Banco Central (BC), o País teve um saldo em conta corrente de US$ 13,53 bilhões em 2006, uma redução de 3,27% ante 2005, apesar do superávit recorde registrado na balança comercial. O saldo foi equivalente a 1,41% do Produto Interno Bruto (PIB), em comparação a 1,76% no ano anterior.

O resultado das contas externas de dezembro mostrou fotografia semelhante. Mesmo com o elevado saldo comercial de US$ 5,01 bilhões, as fortes remessas de lucros e dividendos, que atingiram US$ 3,08 bilhões, contribuíram decisivamente para a conta de serviços e rendas apresentar um déficit de US$ 4,98 bilhões.

Com as transferências de brasileiros que vivem no exterior somando liquidamente US$ 356 milhões, o superávit na conta corrente no mês ficou em apenas US$ 388 milhões. O superávit de dezembro foi maior que os US$ 200 milhões previstos pelo BC no mês passado, mas ficou pouco acima do piso das expectativas do mercado (US$ 300 milhões).

O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, avaliou que a distância do resultado de dezembro em relação às projeções do mercado refere-se, provavelmente, às estimativas sobre as remessas de dívidas e dividendos. ¿Já sabíamos que haveria um volume elevado de remessas no mês passado, por conta da sazonalidade do período¿, disse Altamir.

Segundo ele, o crescimento do fluxo de remessas em todo o ano é conseqüência da valorização da taxa de câmbio, do próprio aumento no estoque de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no País e da maior rentabilidade das empresas. O BC projeta para este ano remessas de US$ 15,2 bilhões, mas Lopes ressaltou que a projeção poderá ser revisada no fim do primeiro trimestre, até porque se espera que a taxa de crescimento da economia brasileira neste ano será maior que a de 2006.

Apesar do impacto das remessas no superávit em conta corrente, Altamir considerou o ano de 2006 ¿altamente positivo¿ para as contas externas brasileiras. Segundo ele, os números positivos do setor externo permitiram ao governo acumular reservas internacionais, que fecharam o ano passado em US$ 85,84 bilhões, e também mudar significativamente a composição do endividamento externo do País, com forte redução da dívida externa pública.

A cada vez menor dívida brasileira com os credores internacionais - por conta de pagamentos antecipados ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o resgate antecipado de bradies (títulos originados da renegociação do calote da dívida nos anos 80) e as operações de recompra de dívida de curto prazo do Tesouro Nacional - conteve a expansão da despesa bruta com juros no ano passado. Foram pagos US$ 16,4 bilhões de juros em 2006, ante US$ 15,7 bilhões no ano anterior.

De outro lado, a elevação das reservas internacionais e a liberação de garantias por conta do resgate dos bradies aumentaram as receitas do País com juros de US$ 2,22 bilhões em 2005 para US$ 5,14 bilhões no ano passado. Dessa forma, as despesas líquidas com juros recuaram 16,5% em 2006 e somaram US$ 11,27 bilhões.