Título: Doha já pode avançar, diz Schwab
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/01/2007, Economia, p. B6

Há condições para um progresso real nas negociações globais de comércio, disse ontem a representante dos Estados Unidos para Comércio Exterior, Susan Schwab. Os Estados Unidos, segundo ela, estão dispostos a negociar o corte de subsídios internos à agricultura, se outros países oferecerem, como contrapartida, ¿suficiente acesso a mercados para garantir equilíbrio no resultado¿.

A principal negociadora americana mostrou cauteloso otimismo quanto à miniconferência ministerial marcada para amanhã cedo, em Davos, em novo esforço para desencalhar a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

O chanceler brasileiro, Celso Amorim, chegou ontem à noite para o encontro. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, e mais 25 ministros deverão comparecer. A Rodada Doha, lançada em 2001, envolve 150 países.

¿A questão-chave¿, segundo Susan Schwab, ¿é a seguinte: que podemos realizar de substantivo em termos do processo que adotaremos para avançar a partir de agora?¿Estados Unidos, Brasil e União Européia têm-se envolvido em conversações bilaterais com vários parceiros, lembrou a secretária. O negociador brasileiro Roberto Azevedo esteve nos Estados Unidos e na Índia nos últimos dias. ¿Esperamos que em algum momento possamos juntar tudo e ver o contorno, o formato daquilo que poderá ser um avanço [NA RODADA]¿, disse Schwab.

Mas ela prefere não definir um prazo, ¿porque a Rodada Doha já teve muitos¿. Admite, no entanto, haver agora um sentimento de que as coisas podem avançar. ¿Podemos tentar construir com base nisso e alcançar um resultado nos próximos meses¿, disse ela.

RESISTÊNCIA INDIANA

¿Não penso que haverá um resultado decisivo aqui, mas estamos em condição de fazer um progresso real nas conversações - que estão ocorrendo nos bastidores - sobre quotas tarifárias, tratamento de produtos sensíveis e produtos especiais e sobre como cuidar de subsídios internos causadores de distorções comerciais.¿

Para a negociadora americana, ¿o Brasil está tentando ser um líder muito construtivo na rodada¿. Segundo ela, o Brasil deve aproveitar a sua liderança no Grupo dos 20 (G-20) para atrair a Índia e outros países a um maior engajamento nas negociações. A Índia reluta em abrir mercado à importação de produtos agrícolas, embora defenda, como membro do G-20, a liberalização da política agrícola da UE e dos EUA.

As negociações, lembrou Schwab, tratam de abertura dos mercados de bens industriais, serviços e produtos agrícolas. ¿Em agricultura, estamos falando de subsídios internos, subsídios à exportação e acesso a mercados. No G-20, todos concordam quanto aos subsídios internos, mas há divergências quando se trata do acesso a mercados agrícolas, e diferenças até maiores quando o assunto é o acesso a mercados de bens industriais e de serviços.¿

O Brasil, segundo Schwab, pode exercer uma liderança crucial em busca de entendimento sobre esses temas. No dia anterior, a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, havia feito uma cobrança semelhante, mas, ao mesmo tempo, havia convocado os países mais industrializados a formar uma frente para pressionar as economias em desenvolvimento.

O que será um resultado satisfatório para a miniconferência em Davos? ¿Oh, meu Deus, eu diria que seria um pacote ambicioso, amplo e equilibrado.¿ Sobre a idéia de redução dos subsídios por produto, Schwab preferiu não entrar em detalhes para não avançar pontos em negociação. Mas afirmou que os EUA, desde o começo da Rodada, têm estado ¿prontos para negociar o corte dos subsídios domésticos, desde que haja sobre a mesa suficiente acesso a mercados para garantir um resultado equilibrado¿.

Há um ano, em Davos, numa conferência semelhante, representantes de uns 30 países comprometeram-se a fazer um esforço para destravar a Rodada Doha e criar condições para um acordo até o fim do ano ou começo de 2007. Criaram um cronograma com a pretensão de resolver as questões mais complicadas até julho, para dedicar os meses seguintes à aos detalhes técnicos. Não deu certo. Agora, Susan Schwab prefere não falar em prazos.