Título: Com medo, líderes xiitas fogem para o Irã
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2007, Internacional, p. A8

Muitos dos líderes leais ao clérigo xiita Muqtada al-Sadr, suspeitos de participar de esquadrões da morte contra sunitas, fugiram de Bagdá em direção ao Irã para evitar serem capturados ou mortos quando for posta em prática a nova estratégia de segurança para Bagdá.

O plano, anunciado na semana passada pelo primeiro-ministro Nuri al-Maliki, contará com a ajuda de 17 mil soldados americanos. A fuga pode atrapalhar a intenção americana de capturar os líderes dos esquadrões da morte.

Segundo um ex-ministro iraquiano, que pediu para não ser ser identificado, como o governo de Maliki depende de Sadr para ter apoio político, teria auxiliado os fugitivos e também teria escondido armas do Exército Mehdi, de Sadr, no Ministério do Interior para evitar que elas fossem confiscadas.

Como Sadr inesperadamente não protestou contra o plano, que prevê a repressão de milícias sunitas e xiitas, suspeita-se que haja um acordo entre o clérigo radical e o primeiro-ministro. ¿Sadr concordou em não criar muitos problemas, porque Maliki deu tempo suficiente para seus aliados escaparem¿, afirmou o ex-ministro.

Embora o governo de Maliki tenha prometido que não haverá lugar seguro para as milícias, as forças iraquianas e dos EUA esperam não ter de lutar em bastiões xiitas como Cidade Sadr, lar de dois milhões de pessoas em situação de pobreza.

Com Bush sofrendo pressão interna por causa do aumento de tropas americanas no Iraque, esta pode ser sua última tentativa de pacificar a capital iraquiana. O embaixador americano em Bagdá, Zalmay Khalilzad, disse na última semana desconfiar que as milícias evitem conflitos agora para lutarem em outra oportunidade.

A fuga dos líderes para o Irã reforça os temores da Casa Branca com o fortalecimento da presença iraniana no Iraque. Na sexta-feira, Bush confirmou ter autorizado as forças americanas a capturar e matar agentes iranianos suspeitos de armar as milícias xiitas.

De acordo com uma fonte americana, oficiais americanos temem que o Irã esteja seguindo o caminho do Líbano nos anos 80, quando membros do grupo moderado Amal foram encorajados a entrar no Hezbollah, apoiado pelo Irã.

Os americanos acreditam que o Irã esteja encorajando uma ruptura similar com as forças de Sadr ao patrocinar os mais violentos líderes de esquadrões da morte anti-sunitas.

De acordo com o porta-voz do departamento de Estado americano, Sean McCormack, a administração Bush tem ¿uma montanha de provas¿ sobre o envolvimento iraniano no Iraque. O governo pretende revelar essas evidências nesta semana.

No entanto, alguns funcionários americanos crêem que a influência do Irã no Iraque esteja sendo interpretada de maneira exagerada para desviar a atenção da falta de segurança iraquiana. A questão também estaria sendo usada para persuadir governos sunitas - como a Arábia Saudita e o Egito - a acreditarem que os EUA estão atentos aos interesses deles na região.

Na última semana, o deputado sunita Mohammed al-Daini acusou Maliki de ceder à pressão de Teerã para libertar 482 prisioneiros iranianos em agosto do ano passado. O deputado sunita Thafer al-Ani disse que já confrontou Maliki sobre o assunto. ¿Ele não teve como negar. Infelizmente, agora quem realmente está ocupando o Iraque é o Irã, e não os EUA.¿