Título: Contra Dirceu, Tarso se alia a Jaques Wagner
Autor: Tosta, Wilson
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2007, Nacional, p. A6

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, articula, com apoio do governador da Bahia, Jaques Wagner, uma nova maioria para enfrentar no 3º Congresso Nacional do PT, em julho, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o setor tradicional do Campo Majoritário, grupo moderado que chefiou até a crise do mensalão, em 2005.

Com o conhecimento do Planalto, Tarso faz circular documento acusando o partido de ¿corrupção¿ e, embora sem citar Dirceu nem as tendências que ele liderava, responsabiliza-os veladamente pela crise de valores e práticas que quase tragou o petismo. O movimento, que tem simpatia da tendência Democracia Socialista, pede a ¿refundação¿ do PT e mudanças na política econômica.

¿O PT viveu uma crise de corrupção ética e programática, não apenas conjuntural e não apenas decorrente de desvios comportamentais ou de meros abusos de poder e de confiança¿, diz o texto ¿Mensagem ao Partido¿, obtido pelo Estado. ¿Decorreu de um modo de construção eleitoralista e adaptada ao Estado, de afastamento das organizações de base e do mundo do trabalho, de afastamento da utopia socialista.¿

Segundo o documento, para superar a ¿grande crise¿ não basta trocar a direção do PT e a política econômica, mas restabelecer a ligação com movimentos sociais. ¿E instituir um regime financeiro controlado pelos petistas e dependente, predominantemente, de suas próprias contribuições.¿ O texto será lançado na reunião do Diretório Nacional marcada para dias 9 e 10 de fevereiro, em Salvador.

Tarso e Wagner militam nas alas petistas que encaram Dirceu e seus seguidores mais como criadores de problemas do que de soluções para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, chama a atenção a movimentação dos correligionários do ex-ministro na eleição da Câmara. Interessados numa possível anistia para Dirceu, que em 2005 perdeu o mandato de deputado e, por 8 anos, seus direitos políticos, engajaram-se na campanha de Arlindo Chinaglia (SP). A idéia de Tarso e seus aliados é isolar o grupo do ex-ministro.

O titular das Relações Institucionais vive com Dirceu e seu grupo relação de oposição e desgaste desde o mensalão. Tarso assumiu a presidência do PT quando José Genoino renunciou ao posto. Depois, chocou-se com Dirceu, exigindo que ele saísse da chapa do Campo Majoritário que disputou o Diretório Nacional em 2005 - do contrário, não concorreria à reeleição para a presidência.

O ex-ministro acabou fora da direção, mas Tarso também não concorreu. À frente da sigla, Tarso repetia que o PT tinha de ser refundado. Wagner é um nome em alta pela derrota que impôs ao grupo do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) na Bahia no ano passado. Também é amigo de Lula.

CRISE

O documento, ainda preliminar, diz que o partido continua a enfrentar uma crise (aberta com as denúncias do mensalão), mas localiza sua origem no domínio da legenda pelo Campo Majoritário. ¿Nosso partido ainda não superou a crise originada da hegemonia absoluta de um núcleo dirigente que ditava as regras partidárias e as respectivas políticas de forma alheia às instâncias do partido¿, prossegue o texto.

¿Esta constatação não é registrada para incriminar indivíduos, mas pretende alertar o partido para a necessidade de recuperação de princípios democráticos que informaram a fundação do PT, visando a superar uma forma de direção que, se é verdade que foi capaz de nos dirigir para a vitória de Lula em 2002, também nos legou uma grave crise ética e política, capaz de ameaçar a sobrevivência do PT.¿

Militantes são conclamados a formar um ¿novo campo político, que assuma as responsabilidades de desbloquear as relações internas e constituir as bases para a construção de novas formas pluralistas e de consensos dentro do partido e para a retomada de um diálogo mais orgânico e solidário em relação aos movimentos sociais¿. Também se pede que a ¿reconstrução partidária¿ seja ¿conjugada a um processo de desenvolvimento econômico e social¿, com algumas ações ¿estratégicas¿ - reforma política e democratização dos meios de comunicação, por exemplo.