Título: A máfia do contrabando virtual
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2007, Cidades, p. C1

Numa esquina de Ciudad del Este, Paraguai, um homem de meia-idade vende, por R$ 20,00, notas fiscais de empresas brasileiras. São falsificadas, mas servem para 'legalizar' mercadorias contrabandeadas, vendidas em sites brasileiros. O comércio eletrônico é a mais nova e rentável arma das quadrilhas de crimes pela internet, que montam lojas virtuais fraudulentas. A estimativa é de que elas faturaram, só em 2006, R$ 4,3 bilhões.

O Estado acompanhou, de 13 a 16 de dezembro, a trajetória do contrabando que recheia sites fraudulentos, da compra nas lojas de Ciudad Del Este à chegada ao interior paulista. Uma cooperativa de donos de endereços eletrônicos banca a viagem, feita por rodovias de São Paulo até Foz do Iguaçu.

A Polícia Federal descobriu que o paraíso das quadrilhas virtuais fica em Araçatuba, a 530 quilômetros de São Paulo. Nos últimos quatro anos, elas deram prejuízo de R$ 15 milhões a pelo menos 2 mil consumidores. As organizações se juntam para comprar e guardar mercadorias, armazenadas em forma de rodízio em cinco barracões espalhados por bairros diferentes da cidade.

A rede criminosa inclui empresários, comerciantes, contrabandistas, doleiros e policiais corruptos. Sustenta hoje pelo menos 16 sites suspeitos de terem sido montados exclusivamente para dar golpes no consumidor e na Receita Federal.

O delegado da PF em Araçatuba Sérgio Henrique Matheus diz que há três tipos de sites fraudulentos. Alguns deles entregam bens contrabandeados. Outros vendem, mas não entregam - nem devolvem o dinheiro. E há sites que fazem as duas coisas: entregam mercadorias, dando a impressão de credibilidade, depois aplicam grandes golpes. 'Esses endereços geralmente funcionam por até um ano. Depois de conquistar a confiança dos internautas, fazem uma grande promoção, captam boa quantia de dinheiro e são fechados.' Segundo Matheus, cada site gira de R$ 150 mil a R$ 250 mil por mês.

Uma das vítimas dos piratas da web foi o médico Oilton Liberati Vieira, de Presidente Prudente, que comprou um notebook em 2005 por R$ 3.999,00 e até hoje não recebeu o produto. Vieira denunciou o site em dezembro daquele ano. Quando a polícia chegou ao local do call center do site, num edifício comercial no centro de Araçatuba, apreendeu 572 cartas com queixas de consumidores de todo o País. Todas estavam no lixo.

O site foi fechado, mas nenhum dos responsáveis pelo golpe chegou a ser preso. O inquérito está na Delegacia Seccional de Polícia à espera da autorização de pedidos de quebra de sigilo das contas correntes dos golpistas, possivelmente todos laranjas.