Título: Site fraudulento tem dono virtual
Autor: Siqueira, Chico
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2007, Cidades, p. C3

A Polícia Federal descobriu que a maioria dos sites usados pela máfia do contrabando virtual é operada por laranjas, pessoas que levam a culpa no lugar dos verdadeiros donos. Estes são, geralmente, traficantes ou bandidos experientes, que migraram para esse tipo de golpe para ganhar mais dinheiro e correr menos risco de prisão. A pena para tráfico, por exemplo, varia de 5 a 15 anos de detenção, enquanto a de estelionato vai de 1 a 5 anos. Além disso, o acusado de estelionato pode pagar fiança e responder em liberdade.

Em 2005, sete sites foram fechados e seus operadores, indiciados por contrabando e estelionato. No entanto, nenhum criminoso ficou preso. Alguns continuaram aplicando o golpe com outros sites, em novos endereços.

Um dos endereços eletrônicos descobertos pela polícia estava em nome de um dependente químico que confessou ter 'vendido' a carteira de identidade em troca de cocaína. Outros sites fechados estavam em nome de colegas, namoradas, amigas e amantes dos donos, que escapam de processos por falta de provas materiais ou testemunhais contra eles.

Uma página de vendas virtuais pode garantir ganhos de R$ 30 mil a R$ 1 milhão por mês, estima a PF. O Nickshop, pioneiro nesse tipo de golpe, movimentava no fim de 2004, quando foi fechado pela polícia, entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões mensais. 'Se a gente entrega as mercadorias pode tirar, depois de seis meses, de R$ 40 mil a R$ 200 mil líquidos. Se não entregar, o ganho é de cinco a dez vezes maior', diz o responsável por um site flagrado pela polícia em 2005.

Como trabalham com mercadoria que entra ilegalmente no País, os sites oferecem produtos a preços bem abaixo da concorrência e atraem consumidores de todo o País. Só a delegacia da PF de Araçatuba recebe, em média, dez telefonemas por dia com queixas de consumidores, pessoas físicas e jurídicas, de vários Estados. 'Eles compraram, pagaram, mas não receberam os produtos. E, quem recebeu, era contrabando', diz o delegado Sergio Henrique Matheus.

O policial lembra do caso do representante de uma empresa de São Paulo, lesada em R$ 20 mil. 'Eles fizeram uma concorrência e decidiram comprar no site que vendia os equipamentos de informática mais baratos.'

Outra história é a de um pastor de Brasília, que gastou R$ 3 mil da igreja para comprar um projetor. Não recebeu o produto e é cobrado até hoje pelos fiéis.