Título: Para FGV, construção terá ritmo chinês
Autor: Otta, Lu Aiko e Goy, Leonardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/01/2007, Economia, p. B3

Se o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) for capaz de elevar a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo) para os níveis esperados pelo governo, a construção civil vai ganhar ritmo chinês de crescimento. Uma simulação feita pela Fundação Getúlio Vargas Projetos indica que, caso a taxa de investimento passe dos atuais 20,6% para 22% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todas as riquezas produzidas no País) já neste ano, o setor da construção civil deverá crescer 8,6%, mais do que o dobro estimado para a economia como um todo (4%). Para 2008, supondo que o nível de investimento chegue a 25% do PIB, a expansão da construção civil é estimada em 15%. Nesse caso, o PIB deverá crescer 5%.

Pelos cálculos dos consultores Ana Maria Castelo e Fernando Garcia, da FGV Projetos, o impacto no emprego nos canteiros de obra também será expressivo. Eles projetam um aumento de 9% no nível de ocupação do setor em 2007, com a abertura de cerca de 450 mil postos de trabalho. Para o ano que vem, a previsão é de acréscimo de 17%, o que representa cerca de 915 mil vagas. Nos anos seguintes, a oferta de novas ocupações deverá ser menor. Hoje, estima-se que a construção civil emprega 5 milhões de pessoas em todo o Brasil.

¿Os números mostram que o desenvolvimento econômico e social do País passa por investimentos em infra-estrutura e construção civil¿, diz Ana Maria. ¿Se as intenções do governo explicitadas no PAC se confirmarem, o setor vai crescer a taxas comparáveis às da China¿. No ano passado, a economia chinesa cresceu 10,7%.

Paulo Safady, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), avalia que, dos R$ 503 bilhões de recursos anunciados pelo governo, aproximadamente R$ 300 bilhões referem-se a investimentos novos, o que dá uma média anual de R$ 75 bilhões.

¿Acreditamos que 65% desses investimentos são diretamente ligados à construção, o que deve permitir um salto significativo na formação bruta de capital, caso eles realmente sejam efetivados¿, afirma Safady. ¿Tem muita coisa em condições de começar imediatamente, e eu passo a acreditar que possa haver uma gestão competente do plano, porque vai estar centralizada nas mãos da ministra Dilma (Rousseff, da Casa Civil), que é uma ministra forte e tem a caneta.¿

Com os projetos anunciados pelo governo para infra-estrutura, saneamento e habitação, as empresas aceleram seus planos de expansão e já acreditam que a construção civil elevará sua participação no PIB, que é de 7%. Considerando toda a cadeia produtiva, o que inclui varejo e fabricantes de materiais de construção, esse número sobe para 13%.

A Construtora Tenda, que tem como alvo o público de menor renda, as camadas C e D, por exemplo, espera vender 15 mil imóveis até o fim do ano, o que representa crescimento de 150% em relação a 2006, quando foram vendidas 6 mil unidades.

¿A expectativa do mercado imobiliário é muito boa, mas no segmento de baixa renda é melhor ainda, por causa da redução dos juros¿, diz Henrique Alves Pinto, presidente da construtora.

No varejo, o clima também é de otimismo. A rede de home centers Dicico vai investir R$ 40 milhões em 6 novas lojas até dezembro. Com isso, a rede deve saltar de 18 para 24 lojas.

Carlos Roberto Corazzin, diretor de Marketing da Dicico, conta que a rede espera faturar R$ 600 milhões, o que representa crescimento de quase 40% em relação a 2006 (R$ 432 milhões).