Título: Aldo critica concentração de poder nas mãos do PT
Autor: Madueño, Denise e Leal, Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2007, Nacional, p. A6

Debate realizado ontem entre os três candidatos à presidência da Câmara agravou a crise entre os partidos da base governista, expondo a fratura entre o PT de Arlindo Chinaglia (SP) e o PC do B de Aldo Rebelo (SP). No fim do confronto, o atual presidente da Casa chegou a dizer que a eventual vitória do petista seria negativa para a democracia.

"Não creio que, em nome da democracia e do equilíbrio dos Poderes do País, se deva dar ainda mais força e mais poder a um único partido. Não julgo prudente, não julgo equilibrado. Não julgo bom nem para a democracia nem para o País nem para o próprio PT a concentração de tanto poder em suas mãos", disse Aldo, ao fazer suas considerações finais.

O comentário surpreendeu petistas que foram ao estúdio da TV Câmara e assistiram a pouco mais de duas horas de debate. O próprio Chinaglia usou o seu tempo final para se defender, dizendo que sua candidatura era mais ampla do que o PT.

A reação às declarações de Aldo continuou durante o dia entre os petistas. "É um erro, porque alimenta um preconceito que não é bom amigo da política democrática. Ele tentou alimentar o preconceito. Na minha opinião, foi a frase mais infeliz do presidente", rebateu o líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS).

REVÓLVER DE TINTA

O deputado e senador eleito Renato Casagrande (PSB-ES) defendeu Aldo. "Ninguém vai para a guerra com revólver de tinta", afirmou. Por trás da defesa de Casagrande, está também a tônica da insatisfação do PSB com o tratamento conferido pelo PT aos aliados.

Assim como o PC do B, o PSB reclama da avidez do PT no poder. O que mais irritou os dois partidos, que estão na campanha de Aldo desde o início, foi a insistência dos petistas em pedir a retirada da candidatura do deputado.

Até o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, tentou convencer o presidente do PC do B, Renato Rabelo, de que o partido deveria abrir mão da disputa em favor do candidato petista.

Em entrevista após o debate, Aldo demonstrou que o racha deverá continuar após a disputa pela presidência da Câmara. Indagado sobre a convivência dos partidos da base após a eleição, ele respondeu: "Isso só poderá ser examinado depois. Há uma diferença de opinião entre o PSB e o PC do B com relação do PT."

Enquete publicada pelo Estado no domingo, com 416 deputados que aceitaram revelar os votos, indicou o favoritismo de Chinaglia na disputa, mas com tendência de decisão em segundo turno entre o petista e Aldo. Chinaglia teve 41,8% dos votos, Aldo atingiu 27,2% e o terceiro candidato, Gustavo Fruet (PSDB-PR), 19,2%.

Chinaglia foi cobrado várias vezes no debate a dar explicações sobre o apoio que recebe de deputados e partidos envolvidos no escândalo do mensalão, como o PP, o PTB e o PL, além do próprio PT. Ele defendeu o direito de os suspeitos eleitos assumirem seus mandatos.

"Discordo que haja partidos de mensaleiros", reagiu. E se exaltou quando Fruet referiu-se à tentativa do deputado cassado José Dirceu, apoiador do petista, de obter anistia por meio do envio de um projeto de iniciativa popular à Câmara.

"Desafio Vossa Excelência como qualquer um, no plenário ou fora dele, a provar que eu esteja orientando minha candidatura para promover a anistia do ex-ministro José Dirceu. Por favor, não mencione mais isso", respondeu Chinaglia.

INDEPENDÊNCIA

Fruet insistiu na necessidade de independência do Legislativo e afirmou que a vitória de Chinaglia ou de Aldo significaria a subordinação da Câmara ao Palácio do Planalto.

"Temos que acabar com a lógica de que para ser presidente da Câmara é preciso ser líder do governo", afirmou Fruet, em referência ao fato de Chinaglia ser o atual líder do governo na Câmara, cargo já exercido por Aldo. "Eles são governo, eu quero ser a Câmara. Eles defenderam o governo, eu quero defender a Câmara."

Os três candidatos reconheceram o tom ríspido do debate promovido pela TV Câmara. ¿Só me defendo, eu nunca puxo a faca primeiro", disse Chinaglia. 'Vou procurar na lista telefônica o nome de um psicólogo para sugerir a Chinaglia. Ele só queria me atacar e ao PSDB", comentou o candidato tucano. "Quando estava ficando bom, acabou", brincou Aldo.